Jane Peyton (Foto: Hypeness/Reprodução)
O primeiro programa de computador, a tecnologia Wi-Fi, os painéis
solares e até o bote salva-vidas foram criações feitas por mulheres que
superaram as limitações impostas pelas culturas e até leis vigentes e se
imortalizaram com invenções verdadeiramente revolucionárias – e muitas
permanecem pouquíssimo reconhecidas.
1. Cerveja
A historiadora e sommelier de cerveja inglesa Jane Peyton –
autora de três livros sobre a bebida e um sobre pubs ingleses – revela que até
menos de dois séculos atrás, cerveja era, em todos os sentidos, coisa de mulher.
A conclusão veio após anos de extensa pesquisa para o
desenvolvimento de um novo livro. Segundo Peyton, de modo geral e nas regiões
mais diversas do mundo a cerveja era vista desde sua criação como um alimento –
uma parte do cardápio que, logo, era também
parte das ditas “tarefas domésticas” reservadas às mulheres.
Mais do que uma criação feminina, a feitura da cerveja foi
por séculos tarefa exclusiva das
mulheres. O que inicialmente era visto como um afazer da casa, rapidamente
se tornou uma especialidade muito apreciada – e em pouco tempo a cerveja passou
a ser uma bebida feita por mulheres também pelo fato delas conhecerem os segredos das diversas receitas e basicamente
fabricarem uma bebida melhor.
A pesquisa de Peyton remete há cerca de 10 mil anos, e
confirma que se temos por todo o mundo tantas refinadas variações de sabores da
bebida, isso se deve ao trabalho feminino. Na Mesopotâmia e na Suméria há pelo menos 7 mil anos eram justamente
esses conhecimentos especiais e exclusivos que faziam da cerveja uma invenção
exclusivamente das mulheres, que também tinham o monopólio da administração das
tabernas – sim, os bares da época eram lugar “de mulher”.
Não é por acaso que, de modo geral, nas sociedades antigas
a cerveja era considerada um presente de
uma deusa – e nunca de um deus masculino.
Arte egípcia mostrando mulheres servindo cerveja. (Imagem: Hypeness/Reprodução)
A cerveja dos vikings era feita por mulheres em torno do
século 8 antes de Cristo, e da mesma forma em todas as sociedades do norte da
Europa. Na Inglaterra as mulheres faziam a bebida em casa, e a vendiam como um
meio de incrementar o orçamento familiar
– eram conhecidas como “Alewifes”, ou esposas-Ale.
2.
Software
de Computador
Grace trabalhando em um dos supercomputadores que programava. (Foto: Computer History Museum)
Grace Murray Hopper conquistou títulos como “a incrível
Grace Hopper”, “Rainha da Computação”,
“Rainha da Codificação”, “vovó do COBOL” e “Grande Dama do Software”.
Hopper foi uma analista de sistemas da Marinha dos Estados
Unidos nas décadas de 1940 e 1950, e enquanto atuava por lá desenvolveu a linguagem de programação
Flow-Matic, que foi a primeira delas a ser adaptada para o idioma inglês.
Essa linguagem, apesar de já extinta, serviu como base para a criação do COBOL (Common
Business Oriented Language) – usado até os dias de hoje em processamento de
bancos de dados comerciais. E, por isso, mesmo que ela não tenha participado
efetivamente da criação dessa linguagem de programação, Grace Hopper ficou
conhecida como a “vovó do COBOL” por
ter desenvolvido a base para sua criação.
Por conta de sua relevância, Hopper foi convidada para
integrar o subcomitê que desenvolveu as especificações da linguagem COBOL em
uma reunião que aconteceu em 1959 no Pentágono. Além da analista da Marinha,
fizeram parte do comitê outras seis pessoas: dois especialistas da IBM, outros
dois da RCA e mais dois da Sylvania Electric Products.
(Imagem: NMAH Archives Center. Grace Murray Hopper Collection. 1947)
Grace Hopper também é apontada como a autora do termo “bug”, que usamos até os dias de hoje para designar
uma falha em códigos-fonte. A invenção do termo teria surgido quando Grace
tentava encontrar onde estava um problema em seu computador. Quando o
descobriu, ela teria visto um inseto morto dentro da máquina – e acabou
chamando o problema de “bug” que, em português, significa “inseto
3.
Bote
Salva Vidas
(Foto: O Explorador/Reprodução)
Maria Beasley (21 de maio de 1817 – Nova Jersey, 15 de
dezembro de 1891), foi uma inventora e empreendedora americana quem inventou o bote salva-vidas moderno,
compacto, à prova de fogo, de fácil e eficiente uso, com placas de metal
capazes de boiar e navegar por longas distâncias de forma realmente segura.
Em 1882, Maria Beasely pensou que era hora de as pessoas deixarem de morrer tragicamente em
acidentes marítimos e inventou os botes salva-vidas que, juntamente com a máquina
de fazer barris, a fez realmente muito rica.
Em meados do século XIX, um bote salva-vidas não era muito
mais do que uma placa de madeira com
remos para se escapar de um navio afundando.
A eficácia de sua invenção foi comprovada de forma extrema
quando do desastre do Titanic, no qual seu bote evitou centenas de mortes.
4.
Wireless
Cena do documentário Bombshell: The Hedy Lamarr Story. (Imagem: Showmetech/Reprodução)
“A mulher mais linda do mundo”. A frase usada para se
referir a atriz Hollywoodiana Hedy
Lamarr acabava por reduzi-la à apenas sua aparência física, coisa que ainda
acontece com todas as mulheres.
Mas Lamarr, assim como milhares de mulheres, mostrou que é
muito mais do que a limitação de “um rostinho bonito”.
Essa mulher fantástica não fez nada mais, nada menos do que
criar a tecnologia necessária para a
existência do Wifi, do bluetooth e dos celulares.
Mesmo em meio ao conceito moderno de supermulher (mãe,
esposa e com uma profissão), ela foi além: mediante ao tédio das obrigações
sociais e de sua profissão, Hedy simplesmente inventou a tecnologia responsável
pela existência dos celulares que conhecemos hoje.
Lamarr inventou e patenteou um método de transmissão de
sinais de rádio, o FHSS (Frequency
Hopping Spread Spectrum, ou o espectro de difusção de frequência variável). Na
época, a invenção contribuiu para o sistema de comunicações das forças armadas
dos EUA e, posteriormente, para os telefones celulares e Wifi.
5.
Painéis
Solares
(Foto: Wikimedia Commons)
Atualmente, a energia solar é uma aposta de energia
renovável para substituir as fontes fósseis que utilizamos. Em 1947, a
biofísica conhecida como “The sun queen” (A rainha do sol), Maria Telkes, inventou a primeira casa com sistema de
aquecimento solar junto da arquiteta Eleanor Raymond. Além disso, Telkes
criou o gerador e refrigerador
termoelétricos.
Telkes apresentou interesse pela área ainda durante o
ensino médio, dando continuidade durante sua graduação, na Universidade de
Budapeste. A pesquisadora trabalhou por
14 anos no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), realizando
avanços importantíssimos no estudo da energia solar.
6.
Algoritmo
(Imagem: Olhar Digital/Reprodução)
Augusta Ada King, nascida em 1815 com o nome Augusta Ada
Byron, conhecida como Condessa de Lovelace ajudou o colega, Charles Baggage, no
desenvolvimento da primeira máquina de
cálculo, além de ser responsável pelo algoritmo que poderia ser usado para
calcular funções matemáticas. O trabalho de Ada Lovelace permitiria que a máquina
calculasse os números de Bernouilli.
Entre 1842 e 1843, ela criou notas sobre a máquina analítica de Babbage, que
foram republicadas mais de cem anos depois. A máquina foi reconhecida como
primeiro modelo de computador e as anotações da condessa como o primeiro
algoritmo especificamente criado para ser implementado em um computador.
7.
Colete
à prova de balas
(Foto: Blog Shoppub/Reprodução)
Stephanie Kwolek, em 1946, tornou-se bacharel em química
pela Universidade Carnegie Mellon e recebeu o convite de Hale para trabalhar na
DuPont, onde permaneceu até se aposentar, graças ao seu extenso trabalho em
polímeros.
Kwolek se tornou química na empresa DuPont Experimental
Station, Wilmington, Delaware, trabalhava no desenvolvimento de novos materiais
para pneus, mais resistente que o aço, quando em 1965 inventou o Kevlar, material mais resistente que o
aço, uma fibra polimérica ultra forte e extremamente leve.
Stephanie estava trabalhando com polímeros de cadeia
estendida e ricos em benzeno, como o poli-p-fenileno tereftato e polibenzamida,
de difícil dissolução. Finalmente encontrou um solvente adequando, mas a
solução precisava ser aquecida à cerca de 200ºC.
A solução obtida era distinta de uma solução típica de
polímeros, próximas a um xarope, a solução obtida por Kwolek era aguada e
opalescente, isso fez com que o responsável pela fiação se recusasse à fia-la.
Crente que aquela solução era um novo material, Stephanie
Kwolek filtrou a solução, mas ainda houve recusa, quando pediu para fiar.
Alguns dias depois, o responsável pela fiação, resolveu fiar a solução aguada e
para surpresa ela girou, o fio era muito forte e muito duro, diferente de
qualquer material já visto.
O polímero de cristal líquido criado por Kwolek é cinco vezes mais forte que o aço,
mais leve e apresenta bom desempenho em altas temperaturas, contudo perde
propriedades em contato com água ou umidade.
Hoje, o Kevlar é usado em
coletes à prova de balas, em roupas esportivas e em pneus resistentes a
furos.
8.
Telecom
(Foto: Blog Shoppub/Reprodução)
Shirley Ann Jackson foi a primeira mulher negra a conseguir um PhD em física nuclear no
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em 1973.
Durante a sua infância, as escolas dos Estados Unidos ainda
eram segregadas, o que impediu que Shirley tivesse acesso à escolas de
qualidade. Na faculdade também encontrou barreiras raciais e era evitada até
pelas outras mulheres. Mas a determinação de Shirley permitiu que ela
concluísse seus estudos e conquistasse
seu doutorado.
Trabalhou durante 15 anos nos Bell Laboratories, onde seus
experimentos em física permitiram avanços nas telecomunicações. Seu trabalho
permitiu que o fax portátil, o telefone
com toque por tom, células solares, cabos de fibra ótica e a tecnologia por
trás da identificação de chamadas e chamada em espera fossem criados.
Fontes:
- Conheça
Ada Lovelace, a 1ª programadora da história
- As invenções de
Maria Telkes no estudo da energia solar
- Conheça
Hedy Lamarr, a atriz de Hollywood que inventou o Wifi
- Maria
Beasley – Bote salva-vidas (1882)
- Mulheres
Históricas: conheça a história de Grace Hopper, a "vovó do COBOL"
- Grace
Hopper: a mulher que ajudou humanos e máquinas a conversar
- Dia
da cerveja: história comprova que cerveja foi criada e desenvolvida por
mulheres