(Imagem: Blog Construtora Laguna/Reprodução)
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios globais do século XXI, afetando todos os aspectos da vida humana, incluindo a arquitetura e a engenharia. À medida que os impactos das alterações climáticas se tornam mais evidentes, com eventos climáticos extremos, elevação do nível do mar, e padrões de precipitação alterados, profissionais dessas áreas têm sido obrigados a repensar e inovar em seus projetos.
A adaptação às mudanças climáticas na arquitetura e engenharia envolve a criação de soluções resilientes, mitigação de riscos e desenvolvimento de estratégias de design que possam enfrentar os desafios impostos por um ambiente em constante transformação.
O mundo está 1°C (1,8°F) mais quente do que entre 1850 e 1900 (época pré-industrial), como tal, estabeleceu o desafio de limitar o aquecimento global a 1,5 graus, um número que os cientistas acreditam ser necessário para evitar impactos ainda mais catastróficos.
Neste contexto de aquecimento global e de procura de objetivos comuns, fenômenos meteorológicos extremos estão a tornar-se cada vez mais frequentes em todo o planeta: DANA (depressão isolada em níveis altos), inundações, secas, ondas de calor, quedas de neve, tornados.
Como resultado, as infraestruturas urbanas, edifícios e habitações estão cada vez mais expostos a eventos extremos, ameaçando a sua segurança e estabilidade, bem como a das pessoas. Daí a importância de adaptar a sociedade e as infraestruturas às condições climáticas atuais e às que se irão experienciar nas próximas décadas.
A indústria da construção civil é responsável por 38% das emissões mundiais de dióxido de carbono. Isso reforça a responsabilidade que esse setor deve ter em relação à mitigação dos impactos ambientais e das mudanças climáticas.
Em construções sustentáveis contemporâneas, o combate às mudanças climáticas já se faz presente a partir de diversas estratégias, como: uso de materiais naturais para reduzir a pegada de carbono; otimização de espaços verdes para combater as ilhas de calor; estratégias passivas de conforto térmico para reduzir a emissão de poluentes; e superfícies absorventes ou vegetadas para absorção do excesso de água gerado por condições climáticas intensas.
Projetos de Resiliência Costeira
A elevação do nível do mar e a intensificação das tempestades têm colocado áreas costeiras em risco significativo. Como resposta, arquitetos e engenheiros estão desenvolvendo projetos de resiliência costeira que visam proteger as comunidades contra esses perigos.
(Imagem: Reef Resilience Network/Reprodução)
Uma abordagem comum é a criação de infraestrutura verde, como dunas artificiais, manguezais e recifes de coral restaurados, que podem absorver a energia das ondas e reduzir a erosão costeira. Essas soluções não apenas oferecem proteção, mas também melhoram a biodiversidade local e a qualidade do ambiente.
Outro exemplo é a implementação de barreiras marítimas e diques elevados, projetados para suportar tempestades mais severas e a elevação do nível do mar. Países como os Países Baixos têm liderado o caminho com suas complexas redes de diques e sistemas de bombeamento, conhecidos como "engenharia holandesa", que servem de modelo para outras regiões vulneráveis.
Mitigação de Enchentes
A frequência e a intensidade das enchentes têm aumentado em várias partes do mundo, exigindo soluções inovadoras para mitigação de enchentes. Arquitetos e engenheiros estão utilizando uma variedade de técnicas para lidar com esse problema, desde a construção de sistemas de drenagem urbana sustentável (SUDS) até a criação de infraestrutura permeável.
Os SUDS, por exemplo, incluem a utilização de bacias de retenção, jardins de chuva e pavimentos permeáveis que permitem a infiltração da água no solo, reduzindo o escoamento superficial e aliviando a pressão sobre os sistemas de esgoto tradicionais. Cidades como Copenhague têm adotado esses sistemas extensivamente, transformando suas infraestruturas urbanas para melhor gestão das águas pluviais.
(Imagem: AUN - Agência Universitária de Notícias/Reprodução)
Além disso, há um movimento crescente em direção à restauração de planícies aluviais e áreas de várzea, que atuam como esponjas naturais durante períodos de alta precipitação. Essas áreas podem ser integradas ao planejamento urbano como parques ou áreas recreativas, que se transformam em bacias de retenção temporárias durante eventos de enchente, protegendo áreas urbanas densamente povoadas.
Estratégias de Design para Eventos Climáticos Extremos
Os eventos climáticos extremos, como ondas de calor, furacões e tempestades severas, estão se tornando mais comuns e exigem abordagens de design que aumentem a resiliência das construções. Arquitetos estão incorporando materiais e tecnologias avançadas para criar edificações que possam resistir a esses eventos.
Uma tendência significativa é a utilização de materiais de construção resistentes a intempéries, como concreto reforçado com fibras e telhados metálicos, que oferecem maior durabilidade e resistência. Além disso, o design de edificações elevadas, sobre estacas ou pilotis, está sendo adotado em áreas propensas a inundações, permitindo que a água passe por baixo das construções sem causar danos.
Casa passiva em bambu na França (Imagem: SustentArqui)
O conceito de "casas passivas" está ganhando popularidade, especialmente em regiões sujeitas a variações extremas de temperatura. Essas construções utilizam isolamento térmico avançado, ventilação natural e sistemas de energia renovável para manter temperaturas internas confortáveis, reduzindo a necessidade de aquecimento e resfriamento artificiais. Isso não só diminui o consumo de energia, mas também aumenta a resiliência das edificações frente a interrupções de energia durante eventos climáticos extremos.
Tecnologias e Inovações
A integração de tecnologias inteligentes e inovações na construção é crucial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Sistemas de monitoramento e controle avançados permitem a gestão eficiente dos recursos hídricos e energéticos, além de fornecerem dados em tempo real sobre as condições ambientais.
Por exemplo, edifícios inteligentes podem ser equipados com sensores que monitoram a umidade, temperatura e qualidade do ar, ajustando automaticamente os sistemas de ventilação e climatização para otimizar o conforto e a eficiência energética. Esses sistemas também podem detectar inundações e alertar os ocupantes e as autoridades para ações imediatas, minimizando danos e riscos à segurança.
(Imagem: DevSkin/Reprodução)
A impressão 3D e os materiais de construção sustentáveis também estão revolucionando a arquitetura e a engenharia. A impressão 3D permite a criação de estruturas complexas com precisão e eficiência, utilizando materiais como concreto reciclado e bioplásticos, que têm menor impacto ambiental. Essa tecnologia não só reduz os resíduos de construção, mas também permite a construção de habitações mais resistentes e adaptáveis às condições climáticas locais.
Conclusão
A adaptação às mudanças climáticas na arquitetura e engenharia é uma necessidade urgente e contínua. À medida que os efeitos das alterações climáticas se intensificam, a inovação e a resiliência tornam-se princípios fundamentais no desenvolvimento de projetos que protejam as comunidades e o meio ambiente.
Através da implementação de estratégias de resiliência costeira, mitigação de enchentes, design para eventos climáticos extremos e o uso de tecnologias avançadas, arquitetos e engenheiros estão na linha de frente na luta contra as mudanças climáticas.
Educação e capacitação profissional são cruciais para equipar esses profissionais com as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios futuros, garantindo que nossas cidades e infraestruturas sejam seguras, sustentáveis e preparadas para um futuro incerto.
Fontes:
- Cype