Mercado de
sequestro de carbono - (Imagem: Engenharia Compartilhada/Reprodução)
O Brasil tem
potencial para liderar o mercado emergente de sequestro de carbono atmosférico - fundamental para que seja atingida
a meta de empurrar o aquecimento global
para um patamar abaixo de 1,5 a 2,0 graus Celsius em comparação com o período
pré-industrial.
Para isso, o
país dispõe de uma formidável reserva de
50 milhões de hectares de terras reflorestáveis, com potencial de
regeneração natural espontânea ou de regeneração natural assistida. E o
reflorestamento é, de longe, a forma mais efetiva de sequestrar carbono da
atmosfera.
Esta é a
conclusão do professor Renato Crouzeilles, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), que também é pesquisador afiliado ao Instituto Internacional
para Sustentabilidade (IIS).
"O mercado voluntário de sequestro de carbono
deve crescer até 15 vezes de 2020 a
2030. E, até 2050, entre 7 e 13 gigatoneladas do carbono deverão ser
sequestradas anualmente, para compensar as emissões, e atingir a meta de Net Zero," disse Crouzeilles -
a expressão "Net Zero" designa a
neutralidade de carbono, condição em que todas as emissões remanescentes
são compensadas por sequestros.
Preço do carbono
Segundo o
pesquisador, o preço do carbono sequestrado ainda é muito baixo, mas em mercados regulados como o europeu a tonelada de
carbono sequestrado já alcança o valor de €69,00. "A demanda já é grande e tende a
aumentar, o preço também, e a
oferta ainda é baixa e de baixa qualidade" afirmou.
A qualidade
da oferta de sequestro de carbono é aferida a partir de três critérios. O
primeiro é o da "durabilidade",
isto é, por quanto tempo o sequestro poderá ser mantido. O segundo critério é o
da "adicionalidade", que
só se aplica quando o reflorestamento atende estritamente ao objetivo do
sequestro de carbono. Uma floresta reconstruída para extração de madeira não
pode ser apresentada como uma adição que só se tornou possível devido ao
financiamento obtido no mercado de carbono. O terceiro critério, finalmente, é
que não haja "vazamento",
isto é, que o reflorestamento em determinada área não implique desmatamento em
outras.
"O Brasil apresenta uma das maiores oportunidades para reflorestamento
em larga escala e a baixo custo visando remover CO2 da atmosfera,"
enfatizou o pesquisador, listando quatro vantagens do país: Alto potencial de
sequestro de carbono; baixo custo para o reflorestamento; grande quantidade de
área disponível; e alto potencial para regeneração natural assistida.
Custo de oportunidade
Em vez de
fechar os olhos diante de uma política obtusa de desmatamento e predação dos
recursos naturais, os agentes econômicos brasileiros deveriam enxergar a preservação e a reconstrução das
florestas como um dos maiores e potencialmente mais lucrativos patrimônios
do país.
"Devido às condições climáticas, a Amazônia e a Mata Atlântica estão entre os
melhores locais do mundo para o sequestro de carbono. E, principalmente na
Amazônia, o custo de oportunidade para isso é baixo," comentou
Crouzeilles.
O
"custo de oportunidade", ele explicou, é o montante de dinheiro que o proprietário rural deixa de ganhar ao
redirecionar parte de sua área da atividade agropecuária para o reflorestamento.
Em lugares distantes da fronteira de expansão do agronegócio, esse
redirecionamento pode ser uma opção bastante vantajosa do ponto de vista
econômico, para não falar de suas virtudes ambientais.
Crouzeilles
disse que grandes corporações, como a Microsoft,
a Apple, a Amazon e outras, estão bastante engajadas na política de carbono
neutro até 2050. E que a Microsoft,
em especial, não apenas quer zerar seu balanço de emissões, como também apagar toda a "pegada de
carbono" deixada ao longo de sua história.
De acordo
com o pesquisador, o mercado de sequestro de carbono é altamente promissor para
o Brasil. Mas é preciso agir logo, e
com alta velocidade, porque a meta de reduzir o aquecimento global abaixo de
1,5 a 2,0 graus Celsius até 2030 continua longe de ser alcançada.
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