Uso de revestimentos cerâmicos em fachadas torna o acabamento mais prático e fácil de manter (Projeto: Portobello l Imagem: Archtrends Portobello/Reprodução))
A economia circular tem ganhado destaque nos últimos anos como uma abordagem inovadora para a utilização sustentável dos recursos naturais. Em vez de seguir o modelo linear tradicional de "extrair, produzir, descartar", a economia circular propõe um sistema regenerativo onde os produtos e materiais são constantemente reciclados e reutilizados.
No contexto da arquitetura, essa abordagem não só promove a sustentabilidade ambiental, mas também se alinha com os princípios de ESG (Environmental, Social, and Governance), tornando-se uma prática crucial para o futuro das construções.
(Imagem: ArchDaily Brasil/Reprodução)
A Arquitetura e a Economia Circular
A aplicação dos conceitos de economia circular na arquitetura envolve a integração de estratégias que minimizam o desperdício, prolongam a vida útil dos edifícios e dos materiais, e incentivam a reutilização e reciclagem. Alguns dos principais princípios da economia circular na arquitetura incluem:
Desenho para Desmontagem: Projetar edifícios de maneira que possam ser facilmente desmontados ao final de sua vida útil. Isso permite que os materiais sejam reutilizados ou reciclados, reduzindo a quantidade de resíduos que vai para os aterros sanitários.
Uso de Materiais Reciclados e Recicláveis: Selecionar materiais que já foram reciclados ou que possam ser reciclados no futuro. Isso não só diminui a demanda por recursos naturais, mas também reduz a energia necessária para a produção de novos materiais.
Extensão da Vida Útil dos Edifícios: Projetar edifícios que possam ser adaptados e renovados ao longo do tempo para atender às novas necessidades, em vez de serem demolidos. Isso inclui a utilização de estruturas modulares e sistemas que podem ser facilmente atualizados.
Eficiência Energética e Recursos Renováveis: Incorporar tecnologias que aumentem a eficiência energética dos edifícios, como painéis solares, sistemas de aquecimento e resfriamento eficientes, e a utilização de energia renovável.
Esta casa em Campinas, São Paulo, tem um sistema de captação de energia solar. O projeto foi desenvolvido pela arquiteta Tânia Trajano, em coautoria com o escritório Oliveira Cotta, especialista em arquitetura bioclimática. O décor da área social, lavabo, cozinha e área gourmet é de Cristiana Nassralla Interiores (Foto: Evelyn Müller - Casa Vogue/Reprodução)
ESG e a Sustentabilidade na Arquitetura
O conceito de ESG, que se refere às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização, tem se tornado cada vez mais relevante no setor da construção. A integração dos princípios de ESG na arquitetura não só promove a sustentabilidade ambiental, mas também aborda questões sociais e de governança, criando edifícios que são benéficos para as comunidades e para o meio ambiente.
Environmental (Ambiental)
A componente ambiental do ESG está diretamente ligada aos princípios de economia circular. Ao adotar práticas de construção sustentável, como o uso de materiais recicláveis e a redução de resíduos, os arquitetos podem reduzir significativamente o impacto ambiental dos edifícios.
Além disso, a incorporação de tecnologias de eficiência energética e o uso de recursos renováveis contribuem para a diminuição da pegada de carbono dos edifícios.
Projeto de casa verde inclui premissas de economia circular (Projeto: Diego / Foto: Everson Martins - Archtrends Portobello/Reprodução)
Social (Social)
A dimensão social do ESG foca na criação de espaços que promovem a saúde e o bem-estar dos ocupantes. Edifícios projetados com princípios de economia circular muitas vezes incluem elementos como ventilação natural, iluminação natural e materiais não tóxicos, que melhoram a qualidade do ar interno e o conforto dos ocupantes.
Além disso, a revitalização de áreas urbanas degradadas e a construção de habitações acessíveis são exemplos de como a arquitetura pode contribuir positivamente para a sociedade.
Governance (Governança)
A governança refere-se às práticas de gestão e operação que garantem a transparência, a responsabilidade e a integridade.
Na arquitetura, isso pode incluir a adoção de normas e certificações de construção sustentável, como LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), que garantem que os edifícios sejam projetados e construídos de acordo com os mais altos padrões de sustentabilidade e responsabilidade ambiental.
Exemplos de Economia Circular na Arquitetura
Diversos projetos ao redor do mundo já incorporam os princípios de economia circular, demonstrando como a arquitetura pode ser uma força motriz para a sustentabilidade.
O Projeto Circl em Amsterdã: Este edifício é um exemplo de como a economia circular pode ser aplicada na prática. Projetado para ser desmontado, o Circl utiliza materiais reciclados e recicláveis e foi construído com técnicas que minimizam o uso de recursos. Além disso, o edifício possui painéis solares e um sistema de gestão de água eficiente.
A Torre One Angel Square em Manchester: Este edifício de escritórios possui uma das mais altas classificações de sustentabilidade no mundo. Foi projetado com eficiência energética em mente, utilizando sistemas de ventilação natural, iluminação eficiente e tecnologias de geração de energia renovável.
Torre One Angel Square em Manchester (Foto: ArchDaily/Reprodução)
Desafios e Oportunidades
A transição para uma economia circular na arquitetura apresenta desafios significativos, incluindo a necessidade de mudar mentalidades e práticas estabelecidas no setor da construção. No entanto, as oportunidades são vastas.
Ao adotar os princípios de economia circular, os arquitetos podem não só reduzir o impacto ambiental de seus projetos, mas também criar edifícios mais resilientes, eficientes e adaptáveis.
Conclusão
A integração dos conceitos de economia circular na arquitetura é essencial para a promoção da sustentabilidade e a implementação dos princípios de ESG. Ao adotar práticas que minimizam o desperdício, utilizam materiais reciclados e prolongam a vida útil dos edifícios, a arquitetura pode desempenhar um papel fundamental na construção de um futuro mais sustentável e responsável.
Tallwood house – Canadá. (Crédito: Cortesia de naturallywood.com l Imagem: ArchDaily Brasil/Reprodução)
As práticas de economia circular não só beneficiam o meio ambiente, mas também criam espaços mais saudáveis e equitativos para as comunidades, alinhando-se perfeitamente com os objetivos de sustentabilidade e responsabilidade social e de governança.
A arquitetura, portanto, não é apenas uma disciplina focada na estética e na funcionalidade dos espaços, mas também um campo essencial para a promoção de práticas sustentáveis e responsáveis. Ao adotar os princípios da economia circular e integrar as práticas de ESG, os arquitetos podem liderar a transformação necessária para enfrentar os desafios ambientais e sociais do século XXI.