Imagem: Brooklyn Heights Association
Em maio de 1983, os
nova-iorquinos festejaram com a grande alegria, bandas de música, fogos de
artifício, serpentinas e discursos, o primeiro centenário da Ponte do Brooklyn.
Um século antes, os oradores que inauguraram a Ponte não se esqueceram de
enaltecer o trabalho imenso de paciência e persistência de Emily Roebling, pois
sem ela a ponte de Brooklyn jamais teria sido acabada. Ela teve a honra de ser
a primeira pessoa a atravessá-la.
Emily era uma
simpática dona de casa, casada com o coronel e engenheiro Washington Augustus
Roebling (1837-1926) e nora de John Augustus Roebling (1806-1869), engenheiro
de origem alemã que emigrou para os Estados Unidos, em 1831. Foi ele quem
projetou a ponte, mas teve um acidente grave ao estudar o local exato da construção, ficando com um pé esfacelado. Na sequência do ferimento grave,
contraiu o tétano e faleceu três semanas depois, sem poder iniciar a
construção da ponte em que gastou muito do seu tempo e saber. Sucedeu-lhe o
filho, Washington Roebling, que continuou o trabalho, passou a frequentar o
Rensselaer Polytecchnic Institute, graduou-se em Engenharia e, só então,
prosseguiu com o trabalho do pai. Porém, uma segunda fatalidade envolveria a
família Roebling.
Numa tarde de verão em 1872, Washington Roebling, devido a uma doença chamada “mal dos mergulhadores”, ficou parcialmente paralisado e sem fala. Foi então que sua mulher, Emily, percebeu que poderia e deveria intervir. Sendo ela a única pessoa que sabia se comunicar com ele e como já lhe tinha servido de secretária, optou por se responsabilizar pelo projeto de enorme envergadura.
De início, o marido ensinou-lhe matemática, cálculo e resistência de materiais, mas Emily sabia quais eram as suas limitações e era imprescindível estudar muito mais. Orientada pelo marido, conseguiu passar nas provas de ingresso na escola superior Georgetown Visitation Convent, onde seguiu um rigoroso programa de estudos, com disciplinas de álgebra, geometria, botânica, química e geologia. Depois da árdua etapa de estudos, Emily Roebling podia negociar os acordos com as diversas firmas intervenientes e acompanhar a construção da ponte.
Entretanto, o marido observava a construção de longe, na sua casa em Brooklyn
Heights, que, como o nome indica, era numa zona alta do então bairro de
Brooklyn. Para poder controlar os trabalhos, o Sr. Roebling utilizava um
potente telescópio. Ela logo começou a levar suas visitas para o marido.
Respondia às perguntas dos funcionários da ponte, representantes e prestadores
de serviços. Diz-se que ela respondeu às suas perguntas tão bem que muitos
desses empresários acreditavam que ela era a engenheira-chefe.
Emily podia perceber os materiais que deviam ser utilizados e inspecionar o andamento da ponte diariamente. Depois de algum tempo, passou a ser admirada e tomada a sério por todos os homens que, durante praticamente 16 anos, construíram uma das mais complexas e belas pontes do mundo.
Ao contrário do que
se possa pensar, durante aqueles longos anos, Emily manteve-se num quase total
anonimato. Apenas no dia da inauguração, o congressista
Abram S. Hewitt descreveu a nova ponte também como um monumento “à mulher e à
sua capacidade para estudos elevados, lamentando que estes lhe tivessem sido
negados demasiado tempo”. Fez-se justiça à inteligência e vontade indomável de
uma mulher com um profundo sentido cívico, porque a ponte era um bem necessário
a uma grande comunidade.
Outras tarefas que
Emily muitas vezes concluiu era manter todos os registros, responder as cartas de Washington; entregar mensagens e solicitações ao escritório da ponte;
representando Washington em funções sociais. Uma das coisas que levou Emily
Roebling à fama resultou quando ela foi representar o marido em um encontro
social, sendo a primeira mulher a dirigir a Sociedade Americana de Engenheiros
Civis.
A ponte
A ponte do Brooklyn,
tinha, de início, um arco de 486 metros, uma extensão de pouco mais de 2 km,
fundações que atingiam 41 metros e foi a primeira ponte dos EUA onde se
utilizou cabos de aço unidos paralelamente, em vez de cabos de ferro. As duas
torres que imitam o estilo gótico são de grande beleza e elevam-se a 82 metros
de altura. A ponte comportava duas vias-férreas, duas para carruagens de
cavalos e uma via superior para peões. Várias experiências e estudos feitos por
outros engenheiros foram testados na nova ponte. Houve contratempos e avanços,
como se previa, mas é uma obra considerada extraordinária até hoje.
De cada lado da Ponte foi colocada uma placa comemorativa, com os nomes do
casal Roebling, a quem se deve a concepção e acompanhamento da construção, bem
como a homenagem aos 26 trabalhadores que morreram para que ela fosse erguida.
Depois da inauguração, Emily Roebling apoiou a National Federation of Women’s
Clubs e multiplicaram-se os convites para aparecer em acontecimentos de maior
importância, relacionados com o papel das mulheres na sociedade e a sua
contribuição para a construção daquele, ainda jovem, país. Emily participou na
Exposição Mundial de Columbia, em 1893. Não contente com o que sabia, estudou
também Direito, na Universidade de Nova Iorque e chegou a publicar um trabalho
nesta área, no Albany Law Journal.
Com os conhecimentos
adquiridos, Emily Roebling, considerada a primeira engenheira americana,
projetou sozinha a mansão da família em Trenton, onde foi viver com a família.
Feliz por ser agora uma mulher diferente, um dia disse ao filho que, com o que
aprendera, podia ser útil à sociedade, ter uma profissão e obter um salário,
sem depender, como era usualmente nas classes altas da época, do ordenado do
marido.
Após a conclusão da
ponte, ela tornou-se ativa em diversas organizações sociais e filantrópicas,
como a Sociedade de Socorro e as Filhas da Revolução Americana. Também atuou no
Conselho de Lady Managers para New Jersey, na exposição Columbian.
No dia 4 de julho,
festa nacional dos EUA, a Ponte é um dos lugares de grandes festejos onde se
concentram milhares de pessoas. Emily Roebling faleceu em 1903, e o seu nome
ficou, para sempre, ligado à construção da mais emblemática ponte de Nova
Iorque.
Fontes: