(Enedina (à esquerda) com as professoras do Grupo Barão de Antonina, em Rio Negro (PR), na década de 1930, quando lecionava. Imagem: Gazeta do povo)
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Enedina Alves Marques
(1913-1981) foi a primeira mulher a se
formar em engenharia no estado do Paraná e a primeira engenheira negra do
Brasil. Filha de um casal de negros provenientes do êxodo rural após a
abolição da escravatura em 1888, a família chegou em Curitiba em busca de
melhores condições de vida.
Ainda na infância,
ajudava a mãe nas tarefas domésticas na casa do militar e intelectual
republicano Domingos Nascimento, em
troca de instrução educacional. Foi alfabetizada aos 12 anos e em 1926
ingressou no Instituto de Educação do Paraná, sempre trabalhando como doméstica
e babá em casas da elite curitibana para custear seus estudos. Recebeu seu
diploma de professora em 1932. Entre 1932 e 1935, Enedina lecionou em várias escolas públicas no interior do
Paraná, entre elas, no grupo escolar São Matheus em 1932, atual colégio São
Mateus.
Contudo, Enedina tinha um sonho: queria
se tornar engenheira civil. Retornou à Curitiba e, com muitas dificuldades,
se graduou no curso de Engenharia Civil
na Universidade do Paraná, atual Universidade Federal do Paraná, no ano de 1945, aos
32 anos de idade. Disciplinada e inteligente, enfrentou todos os obstáculos que
uma sociedade no início do século XX apresentava a uma mulher negra e pobre.
Nessa época, era destinado às mulheres, principalmente, o papel de dona de
casa. No mercado de trabalho, as opções costumavam se limitar a trabalhar como
professora ou a empregos em fábricas, com salários abaixo dos salários
masculinos.
Enedina era a única mulher de sua turma. Vivia em
uma sociedade pós abolição, que não instituiu políticas públicas e nem ofertou
oportunidades educacionais e profissionais com expectativas de ascensão social
à população negra, escravizada durante séculos. Diante de tudo isso, também
enfrentou o preconceito pela sua cor, vivendo numa região do país com população
predominantemente branca de descendência europeia.
Mas tudo isso não fez com que ela desistisse. Enedina se tornou a primeira
mulher a obter um curso superior no Estado do Paraná, e a primeira mulher a ser
engenheira no Brasil. Em 1946, foi exonerada da Escola da Linha de Tiro e
tornou-se auxiliar de engenharia na Secretaria
de Estado de Viação e Obras Públicas do Paraná. No ano seguinte foi
deslocada para trabalhar no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica,
após ser descoberta pelo então governador Moisés Lupion.
Como engenheira,
participou de diversas obras importantes no Estado, como a Usina Capivari-Cachoeira (atual Usina Governador Pedro Viriato
Parigot de Souza, maior central hidrelétrica subterrânea do sul do país) e a
construção do Colégio Estadual do Paraná.
Apesar de ser vaidosa
em sua vida pessoal, durante a obra na Usina, ficou conhecida por usar macacão
e portar uma arma na cintura, que
usava atirando para o alto sempre que julgava necessário se fazer respeitada.
Enérgica e rigorosa, impunha-se sempre, pois além de ser mulher era negra,
trabalhando em um ambiente majoritariamente ocupado por homens.
Estabelecida no governo e com carreira estruturada, entre os anos 1950 e 1960
Enedina dedicou-se a conhecer o mundo e outras culturas, viajando pelo mundo.
Nesse mesmo período, em 1958, o major Domingos Nascimento faleceu, deixando-a
como uma de suas beneficiárias no seu
testamento.
Em vida, conquistou respeito liderando centenas de operários, técnicos e
engenheiros. Hoje está imortalizada como a "pioneira da engenharia", ao lado de outras 53 personalidades
femininas gravadas no Memorial à Mulher, construído em Curitiba pela
comemoração pelos 500 anos do Brasil. Em sua homenagem, foi fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina
Alves Marques, empenhado em combater a invisibilidade racial que atinge
negras e negros em diversos setores, como o ambiente escolar, o mercado de
trabalho e as demais esferas sociais.
Enedina não se casou
e não teve filhos. Ao final de sua vida, morava no Edifício Lido, no Centro de
Curitiba, onde foi encontrada morta aos 68 anos, vítima de ataque cardíaco. Por
não ter família imediata, seu corpo demorou a ser encontrado. Seu túmulo é um
dos principais pontos da visita guiada pela pesquisadora Clarissa Grassi, no
cemitério Municipal de Curitiba. Já foram publicadas reportagens, escrito
livros e feito trabalhos acadêmicos e documentários a seu respeito.
Enedina recebeu, após
sua morte, importantes homenagens que lembram seus feitos. Em 1988, uma
importante rua no bairro Cajuru em Curitiba, recebe o seu nome: Rua Engenheira Enedina Alves Marques.
Em 2006, foi fundado o Instituto de
Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá. A casa do major da
polícia e delegado Domingos Nascimento, onde Enedina viveu com sua mãe durante
sua infância, foi desmontada e transferida para o Juvevê e hoje abriga o Instituto Histórico, Iphan.
Fontes:
- Negra Enedina, a engenheira. Matéria do Gazeta do povo.
- Conheça a história da engenheira Enedina Alves Marques. Matéria do Gazeta do povo.
- A primeira engenheira do Brasil, que foi professora em São Mateus do Sul. Matéria do jornal Gazeta Informativa.
- 20 de novembro: Enedina é primeira mulher negra engenheira, post do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.