Marion Mahony Griffin: primeira arquiteta do mundo foi encoberta pela sombra de um homem



Marion Mahony Griffin: primeira arquiteta do mundo foi encoberta pela sombra de um homem

(Imagem: Domínio Público  - Observatório do 3° Setor/Reprodução)


A arquiteta Marion Mahony Griffin, primeira mulher a se embrenhar pela arte de desenhar e construir ambientes, não recebeu a atenção que merecia. Esta, aliás, é a realidade de muitas mulheres em toda a história da humanidade, que tiveram seus trabalhos encobertos pela sombra de homens.


Dentro da arquitetura, poderíamos pensar que ser a protegida de Frank Lloyd Wright, uma das maiores personalidades do cenário da arquitetura internacional do século 20, seria uma grande vantagem. Mas o legado desta importante referência feminina foi simplesmente apagado – ou reservado a meras notas de rodapé ligando seu trabalho ao de Frank e outros homens.


O extenso trabalho de Marion Mahony Griffin ainda se faz presente em construções na América do Norte e na Austrália. 


Marion Mahony (à esquerda) e Catherine Wright, esposa de Frank Lloyd Wright, por volta de 1907. © Frank Lloyd Wright Foundation / Frank Lloyd Wright Trust - Hypeness/Reproduçao




Marion Mahony, arquiteta


Nascida em Chicago, em 1871, ela foi bastante influenciada pela reconstrução da cidade após um grande incêndio que destruiu boa parte do lugar e matou centenas de pessoas. Embora Marion tivesse quase oito meses de idade na época, mais tarde ela seria inspirada por dois dos maiores arquitetos que participaram do projeto de reconstrução local, Daniel Burnham e Louis Sullivan.


Desenho de Marion Mahony Griffin © Sydney Living Museums - Hypeness/Reproduçao



Griffin escreveu que as fadas existiam como ajudantes dos humanos e lembrou-se de ter dito aos alunos que se formavam “que o tipo de pensamento que torna as pessoas capazes de funcionar como gênios (…) eles devem estar prontos para desenvolver aquele tipo de pensamento que algum dia os capacitaria a ver as fadas”.


Criada por uma mulher potente e determinada, Marion teve as armas para buscar sua emancipação. Depois que Jeremiah, pai de Marion, morreu quando ela tinha 11 anos, sua mãe Clara estudou para se tornar professora, estabelecendo-se como uma respeitada diretora de escola. Clara também fez parte do pioneiro Chicago Woman’s Club, um grupo que fez campanhas incansáveis pelos direitos das mulheres.


Os anos de formação de Marion e a influência de sua mãe podem muito bem ter dado o tom para as ambições da futura arquiteta, o que lhe deu a confiança para se inscrever no Massachusetts Institute of Technology (MIT) para estudar a arte do desenho e da construção.


Assim, ela se tornou a segunda mulher a se formar arquiteta. A primeira, Sophia Hayden, desistiria da ideia de seguir carreira na arquitetura por pura frustração com seu tratamento na comunidade profissional – o que é bastante compreensível tendo em vista o momento histórico patriarcal e machista.


Mas, ainda assim, Marion, não se intimidou, talvez graças ao que colegas e conhecidos descreveram como uma “personalidade marcante” e sua capacidade de fazer uma sala cheia de homens parar e prestar atenção nela.


Depois de se formar no MIT, Marion viajou para a Europa, fazendo anotações mentais das paisagens e ambientes que mais tarde seriam entrelaçados em seu trabalho.



As 3 mulheres formadas de 1894 no M.I.T. – Marion Mahony, Harriet Gallup e Sara Hall – foram as primeiras a terem o diploma em arquitetura. À direita: Retrato de Marion em 1895 [Frank Lloyd Wright Trust] - Hypeness/Reproduçao




A sombra de Frank Lloyd Wright


Entra em cena, Frank Lloyd Wright, arquiteto renomado, que até hoje muitas vezes é descrito como um dos grandes pioneiros do século 20 e creditado por realizar a primeira arquitetura verdadeiramente americana. Infelizmente para Marion, apesar de ser a primeira funcionária de Lloyd Wright e trabalhar ao seu lado por 15 anos, ela recebe pouco reconhecimento.


Durante o tempo que trabalhou para o arquiteto, Marion muitas vezes ganhou uma espécie de competição informal que Lloyd Wright organizava no escritório, colocando seus protegidos uns contra os outros em uma tentativa de desenhar partes de um projeto para ele.


Hypeness/Reproduçao



Marion frequentemente saía dessas competições triunfante, mas não era reconhecida. Quando as pessoas se referiam aos elementos projetados por ela dentro do trabalho, eram prontamente corrigidas por Lloyd Wright. E, de fato, alguns dos melhores trabalhos de Marion foram atribuídos por muito tempo a ele.


Na publicação alemã Ausgeführte Bauten und Entwürfe, uma coleção muito celebrada de litografias de Lloyd Frank, os historiadores atuais agora atribuem a Marion pelo menos metade dos desenhos. Estes, aliás, são citados por vários historiadores da arquitetura como estando entre as melhores obras já produzidas.



Uma casa Mueller em Decatur, Illinois, projetada por Marion Mahony - Hypeness/Reproduçao



Não surpreendentemente, o relacionamento entre Marion e Lloyd Frank eventualmente azedou. Em 1909, o arquiteto partiu para a Europa com uma nova mulher, deixando seu consultório e sua primeira esposa para trás nos EUA.


Marion ficou arrasada pela forma como Lloyd Wright pôde abandonar seu trabalho com tanta facilidade, escrevendo mais tarde em suas memórias inéditas, The Magic of America, que “quando o arquiteto ausente não se preocupou em responder a qualquer coisa que fosse enviada a ele, as relações foram rompidas”.


Walter Burley Griffin e Marion Mahony Griffin © Sydney Morning Herald - Hypeness/Reproduçao



Dois anos depois, Marion se casou com o arquiteto Walter Burley Griffin, que ela conheceu enquanto trabalhava para Lloyd Wright. Um sinal dos tempos, Marion parecia contente em trabalhar mais uma vez na sombra de outro arquiteto. Os dois estabeleceram juntos uma empresa de arquitetura de sucesso e começaram a realizar projetos em toda a América.



Detalhes de Marion Mahoney- Hypeness/Reproduçao



Em 1912, Marion convenceu Walter a entrar em um novo concurso, que buscava encontrar arquitetos para projetar a nova capital da Austrália, em Camberra. No típico estilo de Marion, foram suas belas representações, que incorporaram a riqueza da paisagem australiana, que ganharam o concurso para o casal.



Um dos desenhos de Marion para o concurso de design de Canberra © National Archives of Australia- Hypeness/Reproduçao



Como foi o tema da carreira de Marion, sua contribuição crucial para o projeto não foi amplamente reconhecida na mídia, com a maioria dos jornais anunciando o trabalho de Walter e quase apagando Marion da imagem. Foi graças a uma visita ao estúdio da autora australiana Miles Franklin e de Alice Henry, uma ativista feminista da Austrália, que o Sydney Daily Telegraph fez referência ao envolvimento de Marion no projeto.


Com o burburinho da mídia em torno dos Griffins e sua aclamada vitória para projetar a capital da Austrália, as notícias logo chegaram a Lloyd Wright. É seguro dizer que o ex-chefe de Marion não apoiava sua ex-protegida. Enciumado, ele tornou público que considerava o trabalho de Griffin “de segunda categoria”.



Griffiths Studio- Hypeness/Reproduçao



Os Griffins assumiriam vários projetos na Austrália, incluindo a comunidade de Castlecrag na década de 1920 e o Capitol Theatre em Melbourne. Marion inspirou-se nas cores ricas da paisagem australiana e estava incrivelmente interessada na relação entre a natureza e o mundo feito pelo homem.


Griffiths Studio - Hypeness/Reproduçao



Muito do trabalho de Marion pode agora ser visto como um pensamento incrivelmente avançado, entrelaçando a natureza com seus conceitos de design e promovendo o que agora pode ser descrito como urbanismo paisagístico. No entanto, quando Walter morreu em 1937 e Marion voltou para a América, muito de seu trabalho foi simplesmente esquecido.


Capitol Theatre, Melbourne, Austrália, 1924, projetado pelos Griffins. © John Gollings - Hypeness/Reproduçao



A maioria dos historiadores que relembram a vida de Marion é abruptamente interrompida após a morte de Walter, que morreu 24 anos antes dela. Mas isto simplesmente não é verdade, já que Marion continuou dando palestras, projetando e escrevendo – até mesmo suas próprias memórias que, infelizmente, permanecem inéditas.


Marion por Rachel Freundt/Chicago Patterns - Hypeness/Reproduçao



A vida de Marion terminou quando ela lutou contra a demência e acabou morrendo como indigente em 1961 aos 90 anos. Seu atestado de óbito a lista por engano como uma “Professora em uma Escola Pública” e seu estado civil como “nunca se casou”. Existe agora uma pequena placa em sua memória no Cemitério Graceland.


A história tentou esquecer Marion e a marca que ela deixou neste mundo, mas agora mais do que nunca é hora de desenterrar as histórias das mulheres pioneiras e abrir espaço para que sejam ouvidas.



Fonte

- Hypeness.



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