NASA renomeia sede para homenagear engenheira negra Mary W. Jackson



NASA renomeia sede para homenagear engenheira negra Mary W. Jackson
(Foto: Tecmundo/Reprodução)

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A NASA está renomeando sua sede em Washington, Estados Unidos, para homenagear Mary W. Jackson, a primeira engenheira negra que participou do programa espacial da organização.



Em um pronunciamento, o administrador da NASA Jim Bridenstine revelou que a sede da NASA de Washington receberá um novo nome para prestar homenagem à primeira engenheira negra participante do programa espacial da NASA. “[...] será um grande lembrete de que Mary foi uma das mais incríveis e talentosas profissionais na história da NASA e que contribuiu para o sucesso da agência.”



Mary se tornou ainda mais conhecida quando foi retratada no filme Estrelas Além do Tempo. O filme é a adaptação do livro Hidden Figures: The American Dream and the Untold Story of the Black Women Mathematicians Who Helped Win the Space Race que conta a história do papel crucial exercido por um grupo de cientistas composto exclusivamente por mulheres afro-americanas na corrida espacial, durante a Guerra Fria.



(Foto: Futurism/Reprodução )



Ainda no pronunciamento, Bridenstine acrescenta “não mais às escondidas, continuaremos reconhecendo a contribuição das mulheres afro-americanas e as pessoas de todos os grupos que ajudaram na construção da história da NASA.”.



Mary W. Jackson foi uma importante engenheira contratada pela NASA em 1951. Na época, era a única mulher negra a trabalhar como engenheira aeronáutica. A mulher participou do programa Apollo — que com a Apollo 11, proporcionou a chegada do homem à Lua em 1969.



Em resposta, a filha de Mary, Carolyn Lewis “Estamos honrados que a NASA continua celebrando o legado de nossa mãe e avó Mary W. Jackson. Ela foi uma cientista, humanitária, esposa, mãe e pioneira que pavimentou o caminho para o sucesso de milhares de outros cientistas, não só na NASA, mas também em toda a nação.”




Um pouco mais sobre Mary W. Jackson



(Foto: By NASA [Public domain], via Wikimedia Commons)



Mary Winston Jackson é mais uma mulher poderosa que deixou a sua marca na NASA e na história do programa espacial norte-americano. Um pouco de sua história pode ser conferido no filme ganhador do Oscar “Estrelas Além do Tempo”, no qual Mary é interpretada pela atriz Janelle Monáe.



Mary Jackson nasceu em Hampton em 9 de abril de 1921, filha de Frank Winston e Ella Scott Winston. Ela frequentou a escola para negros George P. Phenix Training School e finalizou o ensino básico com as maiores honrarias em 1937. Cinco anos depois, em 1942, Mary formou-se no Hampton Institute, com dupla graduação em Matemática e Ciência Física.



Jackson teve uma série de empregos antes de começar o seu trabalho na NASA. Ela foi professora de matemática na escola Calvert County em Maryland, contadora e recepcionista no King Street USO Club. Além disso, ela passou um tempo em casa depois do nascimento de seu primeiro filho, Levi. Foi só em 1951 que Mary Jackson conseguiu um emprego da NACA (predecessora da NASA), em Langley, Virgínia. Ela começou seu trabalho na agência como matemática, ou como “computador humano”, como eram conhecidas as mulheres matemáticas à época.



Em 1953 ela foi para outro setor da NACA, o Compressibility Research Division. Com a desigualdade e a segregação na agência, Mary considerou se aposentar. Porém, o engenheiro Kazimierz Czarnecki a fez mudar de ideia e a convidou para trabalhar diretamente com ele no Supersonic Pressure Tunnel. Ao perceber toda a capacidade de Jackson, Czarnecki a incentivou a fazer aulas na engenharia e mudar seu título de “matemática” para “engenheira”.



(Foto: By NASA Langley Research Center [Public domain], via Wikimedia Commons)



Depois de conseguir na justiça o direito de assistir às aulas na então segregada Hampton High School, Mary concluiu o curso e foi promovida a engenheira espacial, tornando-se a primeira mulher negra engenheira da NASA, em 1958. Ela virou especialista no trabalho com túneis de ventos e na análise de dados de aeronaves experimentais. Por quase 20 anos Mary fez uma carreira muito produtiva, sendo autora e co-autora de dezenas de artigos focados em estudos do comportamento do ar ao redor de aeronaves.



Com o passar dos anos e por diversos fatores, as promoções ficaram mais difíceis e Mary começou a ficar frustrada. Ao perceber que não conseguiria chegar ao cargo que desejava, fez a última mudança drástica de carreira. Ela deixou de ser engenheira e passou para o Langley’s Federal Women’s Program Manager, mais especificamente no “Programa de Oportunidades Iguais”.



Em sua nova posição, Jackson aconselhou e guiou jovens mulheres e outras minorias em suas carreiras, incentivando quem a procurava a estudar, fazer os mais diversos cursos e a ambicionar novas posições.



Mary seguiu trabalhando na NASA até sua aposentadoria, em 1985. Dentre as homenagens e honrarias, estão o Apollo Group Achievement Award e a nomeação de Langley’s Volunteer do ano, em 1976. Ela faleceu em 11 de fevereiro de 2005, aos 83 anos de idade, mas deixou para sempre a sua marca na história da luta pelos direitos da mulher, dos negros e demais minorias.




‘Estrelas Além do Tempo’


O filme “Estrelas Além do Tempo” é baseado no livro escrito por Margot Lee Shetterly, autora de livros de não-ficção que nasceu justamente em Hampton, a “casa” do Langley Research Center. Margot, que também é afro-americana, cresceu numa família de cientistas, engenheiros e físicos, e muitos deles trabalhavam na NASA. Nascida em 1969 – o mesmo ano em que a humanidade chegou à Lua – Margot começou a se interessar pelas histórias das mulheres e, em especial, das mulheres negras que trabalharam no Langley.


Da esquerda para a direita: Katherine Johnson, Mary Jackson e Dorothy Vaughan. Composição via Marie Claire Brasil. (Imagens via arquivos da NASA. Todos os direitos reservados.)



Fruto de 6 anos de pesquisas árduas, o livro chegou às prateleiras das lojas poucos meses antes do filme estrear, já que seus direitos de filmagem haviam sido adquiridos logo após Margot assinar o contrato com sua editora. 



Estrelado por Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe (que interpretam Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, respectivamente), “Estrelas Além do Tempo” toma certas licenças poéticas em algumas cenas, mas no geral é um retrato preciso dos desafios enfrentados pelas mulheres negras que trabalhavam na NASA há 60 anos.



Devemos nos lembrar que o período retratado no filme vai de meados da década de 1950 até o começo da década de 1960 e, naquela época, os Estados Unidos estavam em plena Guerra Fria, numa Corrida Espacial com a então União Soviética; além disso, a segregação racial era a realidade no país, e nos estados do Sul e do Sudeste – o que inclui a Virgínia, onde o Langley se localiza – a segregação era ainda mais demarcada. 



As escolas e faculdades na Virgínia eram majoritariamente segregadas, e os banheiros públicos e bebedouros eram separados, assim como os assentos dos ônibus (pessoas negras deveriam se sentar na parte de trás).


Pôster do filme “Estrelas Além do Tempo” de 2016. (Imagem via 20th Century Studios Brasil. Todos os direitos reservados.)



Ainda nos primeiros anos da década de 1940, no auge da 2ª Guerra Mundial e décadas antes do acirramento da Corrida Espacial, a NASA, ainda sob a alcunha de NACA, começou a recrutar mulheres para exercer a função de computadores ou “calculadoras” – ou seja, checar manualmente as equações que possibilitavam o trabalho dos engenheiros, matemáticos e físicos (que eram, em sua grande maioria, homens brancos). 



As mulheres brancas foram as primeiras contratadas no Centro de Pesquisas Langley, recebendo salários bem menores que os homens, e pouco depois o órgão criou uma divisão de calculadoras para mulheres negras. Nesse contexto histórico, começa a trajetória de Dorothy, Mary e Katherine na NACA, organização que viria a ser a NASA.



Fontes:

- Tecmundo

- Tech Ladies

- Ciência pelos olhos delas



Pós-Graduação