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A pandemia de COVID-19 mudou profundamente muitas facetas da nossa vida, desde como trabalhamos até como nos relacionamos com os outros. Um dos setores mais afetados foi o da saúde, e, em particular, a infraestrutura hospitalar. O design de hospitais, que já era um tema relevante, ganhou uma nova urgência à medida que a pandemia expôs a necessidade de repensar os espaços de cuidado para torná-los mais eficientes, seguros e flexíveis.
Este artigo explora como a arquitetura e o design de hospitais estão se transformando após a pandemia, levando em consideração novos desafios, avanços tecnológicos e as lições aprendidas durante o período crítico de 2020 até os dias atuais.
1. A Necessidade de Flexibilidade e Adaptabilidade
Antes da pandemia, os hospitais eram projetados com um foco principal: oferecer cuidado eficiente aos pacientes dentro de uma estrutura pré-determinada. Porém, o COVID-19 demonstrou que, em tempos de crise sanitária, o espaço hospitalar precisa ser flexível. A necessidade de ampliar a capacidade de atendimento de forma rápida, acomodando um número elevado de pacientes, foi uma das lições mais importantes.
A flexibilidade no design é agora fundamental. Isso inclui:
- Salas multifuncionais: Ambientes que podem ser facilmente adaptados para diferentes tipos de cuidado, como unidades de terapia intensiva (UTI), leitos de internação, ou espaços de triagem.
- Modularidade: O uso de elementos modulares e móveis, que podem ser rearranjados rapidamente para criar novos espaços ou adaptar áreas existentes para novos usos.
- Unidades de isolamento: Um design que permita a criação de áreas específicas para o isolamento de pacientes, com fluxos de ar controlados e isolados, de forma a minimizar o risco de contaminação.
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Esses elementos não só ajudam a atender situações emergenciais, mas também tornam o hospital mais eficiente em tempos normais. Confira alguns exemplos:
- Hospitais Modulares e Temporários: O uso de unidades modulares, como o MediCity em Helsinque, na Finlândia, permite que novos blocos possam ser montados rapidamente, respondendo a picos de demanda. Esse tipo de design foi fundamental no enfrentamento da pandemia, já que os hospitais puderam aumentar sua capacidade de atendimento sem a necessidade de construção permanente.
- Salas de Cuidados Multipropósitos: O Hospital da Universidade de Medicina de Shanghai implementou salas com paredes deslizantes e mobiliário móvel, o que permite que as áreas sejam transformadas de acordo com a demanda: de leitos de UTI para espaços de triagem, por exemplo.
2. A Importância do Fluxo de Pessoas e Aéreos
A pandemia destacou a importância de um fluxo de pessoas bem planejado dentro dos hospitais. A comunicação de um paciente para o outro, o deslocamento de equipes médicas e o transporte de materiais devem ser feitos de maneira segura e sem interferir no atendimento de pacientes em outras áreas.
O design pós-COVID-19 aposta em:
- Circulação segregada: Criar caminhos separados para pacientes com diferentes necessidades (suspeitos de infecção, pacientes graves e outros) para minimizar o risco de contágio. Isso é especialmente importante em grandes hospitais, onde diferentes tipos de atendimento podem ocorrer simultaneamente.
- Uso de tecnologia para controle de fluxo: Dispositivos de monitoramento de movimento e sensores para controlar o fluxo de pessoas em tempo real e garantir que não haja aglomerações ou interação desnecessária entre diferentes grupos dentro da unidade de saúde.
- Abertura e iluminação natural: A integração de espaços abertos e áreas com luz natural ajuda a reduzir o estresse e a sensação de confinamento, melhorando o ambiente para pacientes, visitantes e profissionais de saúde.
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- Exemplo: Áreas de Isolamento Separadas - O Hospital da Charité em Berlim redesenhou seus corredores e setores para criar um fluxo segregado entre pacientes com COVID-19 e pacientes com outras condições. Isso inclui entradas e saídas distintas, minimizando o contato entre os diferentes grupos de pacientes.
- Exemplo: Passagens Exclusivas para Profissionais de Saúde - No Cedar Sinai Hospital em Los Angeles, passagens separadas para profissionais de saúde e pacientes foram implementadas, reduzindo o risco de contágio e permitindo que as equipes se desloquem com mais segurança, sem interagir com os pacientes.
3. Espaços de Convivência e Bem-estar
Durante a pandemia, houve uma crescente preocupação com o impacto psicológico do isolamento social, tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde. Os novos designs hospitalares priorizam o bem-estar emocional e físico dos envolvidos.
- Ambientes mais humanos: O uso de cores mais suaves, texturas acolhedoras e materiais que tragam conforto visual. A inclusão de áreas de convivência, como jardins internos, espaços de meditação ou áreas externas de descanso, ajuda a criar um ambiente mais relaxante.
- Infraestrutura para os profissionais de saúde: Além do conforto para os pacientes, há uma maior preocupação com o bem-estar das equipes médicas e de enfermagem. Áreas de descanso, salas de descompressão e ambientes tranquilos são agora essenciais no design dos hospitais, promovendo a recuperação física e emocional dos profissionais.
Confira alguns exemplos:
Áreas de Descanso para Profissionais: O Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, criou salas de descanso com camas ajustáveis, música relaxante e áreas verdes para os profissionais de saúde. Essas zonas de descanso são projetadas para ajudar na recuperação emocional e física dos trabalhadores da saúde, especialmente após longos turnos.
Ambientes Naturais para Pacientes: O Royal Children’s Hospital em Melbourne integrou jardins internos e grandes janelas com vista para o exterior, proporcionando aos pacientes um ambiente tranquilo, com conexão visual à natureza, o que contribui para a recuperação emocional e reduz o estresse.
4. Tecnologia e Inovação no Design Hospitalar
A pandemia acelerou a adoção de tecnologias emergentes no setor da saúde, e o design hospitalar pós-COVID-19 está incorporando inovações tecnológicas de forma a garantir eficiência e segurança.
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- Telemedicina: A integração de soluções de telemedicina nos hospitais para consultas remotas com especialistas ou mesmo para monitoramento de pacientes, especialmente para aqueles que podem ser atendidos fora de uma unidade hospitalar.
- Sensores e inteligência artificial (IA): A utilização de sensores para monitoramento contínuo dos sinais vitais de pacientes, combinado com IA para prever e antecipar necessidades de cuidado, pode ser aplicada tanto em leitos de internação quanto em áreas de emergência.
- Automação: O uso de robôs para transporte de medicamentos, amostras e outros itens, minimizando o contato físico entre profissionais de saúde e pacientes. Além disso, os robôs podem ser usados para desinfecção de ambientes, o que ajuda na prevenção de infecções hospitalares.
Confira alguns exemplos:
- Telemedicina e Consultas Remotas: Durante a pandemia, muitos hospitais, como o Cleveland Clinic em Ohio, expandiram seus serviços de telemedicina, com estações dedicadas para consultas virtuais entre médicos e pacientes. Essas estações, equipadas com tecnologia de vídeo de alta qualidade, são uma tendência que continuará após a pandemia.
- Robôs para Transporte e Desinfecção: O Hospital Universitário de Genebra utilizou robôs para transportar medicamentos, equipamentos e até alimentos para os pacientes, reduzindo o risco de contato físico. Além disso, os robôs de desinfecção, que utilizam luz ultravioleta, foram empregados para garantir que os ambientes permanecessem livres de germes e vírus.
5. Sustentabilidade no Design Pós-COVID-19
A sustentabilidade, que já era uma preocupação crescente antes da pandemia, agora ocupa uma posição ainda mais central no design hospitalar. Isso envolve o uso de materiais recicláveis, sistemas de energia renovável e soluções para reduzir o desperdício.
- Eficiência energética: O uso de sistemas de energia solar, iluminação LED eficiente e o controle inteligente do uso de recursos são elementos que ajudam a tornar o hospital mais sustentável, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental.
- Materiais ecológicos: A escolha de materiais como madeira certificada, pisos recicláveis e tintas não tóxicas tem se tornado uma tendência no design de hospitais, criando ambientes mais saudáveis para pacientes e colaboradores.
Confira alguns exemplos:
- Energia Renovável: O Spire Healthcare no Reino Unido incorporou painéis solares em seus edifícios hospitalares, além de sistemas de aquecimento geotérmico, reduzindo a pegada de carbono do hospital enquanto mantém sua eficiência energética.
- Uso de Materiais Sustentáveis: O Hospital de Câncer de Oslo foi projetado com materiais sustentáveis, como madeira reciclada, e sistemas de ventilação ecológicos. Esses elementos contribuem para um ambiente mais saudável, tanto para pacientes quanto para funcionários, além de promover uma redução do impacto ambiental.
6. Espaços para Resiliência e Preparação para o Futuro
O design de hospitais pós-COVID-19 vai além da adaptação para a pandemia. Ele também leva em consideração a preparação para futuras crises sanitárias e desafios globais.
- Capacidade expansível: Hospitais projetados com a possibilidade de expansão rápida, seja por meio de unidades temporárias ou a construção de novas áreas, se necessário.
- Sistemas de emergência: A implementação de sistemas automáticos e protocolos de resposta rápida, que permitam uma adaptação imediata a cenários de emergência.
- Educação e treinamento: Espaços dedicados à capacitação de equipes de saúde, com simulações e treinamento em condições de crise, fazem parte do novo cenário hospitalar.
Confira alguns exemplos:
- Capacidade Expansível: O Hospital de Contingência de São Paulo foi projetado com a capacidade de expandir rapidamente seu número de leitos, por meio da construção de tendas e estruturas modulares que podem ser montadas e desmontadas conforme a demanda.
- Protocolos de Emergência: O Hospital Nacional de Infecções no Reino Unido possui uma série de protocolos e tecnologias para agir rapidamente em situações de emergência, com planos detalhados para criar áreas de atendimento improvisadas e controlar rapidamente a propagação de infecções.
Conclusão
O design de hospitais pós-COVID-19 emerge como uma resposta inteligente e adaptativa aos desafios que a pandemia impôs. Desde a flexibilidade dos espaços até a incorporação de novas tecnologias e preocupações com o bem-estar físico e psicológico, os hospitais do futuro devem ser mais resilientes, eficientes e humanos.
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O design hospitalar não apenas precisa se adaptar às necessidades atuais, mas também deve ser preparado para futuras crises, promovendo um ambiente seguro, acolhedor e sustentável para todos: pacientes, profissionais de saúde e visitantes.