Protestos contra potencial venda ilegal do Palácio Capanema marcam Dia do Patrimônio



Protestos contra potencial venda ilegal do Palácio Capanema marcam Dia do Patrimônio
Palácio Gustavo Capanema, joia da arquitetura modernista (foto: Agência Brasil/Reprodução)

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É crescente o apoio ao manifesto “O MEC não pode ser vendido”, divulgada pelo CAU Brasil, pelo CAU/RJ e outras nove instituições em protesto contra a potencial venda do icônico Palácio Capanema, no Rio de Janeiro. Agora são 20 subscrições. 


O texto foi divulgado intensamente na mídia nacional e internacional. Poucas vezes nos últimos anos se viu tantas referências, nas redes sociais e na imprensa tradicional, ao Patrimônio, nos dias que rodeiam o Dia Nacional do Patrimônio Cultural 2021, celebrado neste 17 de agosto.


O detonador desse interesse foi a notícia divulgada no último dia 13 sobre a inclusão do Palácio na lista de mais de 2.263 imóveis que a União pretende vender no Rio de Janeiro, em meio a terrenos baldios, prédios administrativos e campos de futebol. A proposta pelo Ministério da Economia objetiva “fazer caixa”.


Várias entidades da sociedade civil manifestaram-se contrárias à decisão do governo. Entre diversas reações, consta a união de entidades da sociedade civil para a realização de ato de repúdio. 


O CAU Brasil, o CAU/RJ e outras nove instituições foram os primeiros a reagir, divulgando o manifesto no mesmo dia 13 o manifesto “O MEC não pode ser vendido!”. Umas das razões é o incalculável valor do imóvel para a história da Arquitetura, da cultura brasileira e da memória do país, mas não apenas isto.


Ocorre que o Decreto Lei nº 25 de 1937 estabelece no seu Capítulo III, Art. 11., que “as coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios, inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outra das referidas entidades”.  A nota, contudo, levanta a hipótese de interesse do governo em propor lei federal específica para este imóvel, uma vez que a Lei nº 25  não foi considerada.


O ICOMOS, por sua vez, em manifestação própria, conclamou "às autoridades competentes do país para uma conscientização acerca do papel fundamental que este bem desempenha e seu valor para o Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo. Conclamamos também à comunidade nacional e internacional a tomarem lugar numa campanha para que o Palácio Capanema siga desempenhando o seu papel fundamental para o qual foi concebido como um Palácio da Cultura’’. Clique aqui para acessar o documento.


 

Pioneirismo


A origem do Palácio, situado no centro do Rio de Janeiro e inaugurado em 1945, remonta a 1935, quando Gustavo Capanema (1900-1985), Ministro da Educação e Saúde Pública do Governo Getúlio Vargas, encarregou o arquiteto Lucio Costa de elaborar o projeto da sede da pasta, recém-criada. O arquiteto trabalhou com estreita colaboração de Oscar Niemeyer, Carlos Leão, Jorge Machado Moreira, Affonso Eduardo Reidy e Ernani Vasconcellos. A jovem equipe de arquitetos brasileiros contou, também, com a consultoria do mestre da arquitetura moderna, Le Corbusier.


As grandes obras que consagraram a geração de Lucio Costa e Oscar Niemeyer tiveram ali sua inspiração: Pampulha, Cidade Universitária da UFRJ e Brasília. O prédio, de 16 andares, é um caso exemplar de união de arquitetura, paisagismo e artes, contando com jardins de Roberto Burle Marx, escultura de Bruno Giorgio e painel de azulejos de Candido Portinari, dentre outros importantes criadores da cultura nacional.


Pouco tempo após concluído, o prédio foi tombado pelo IPHAN e passou a ser reconhecido internacionalmente como “protótipo e monumento” da Arquitetura Moderna, nas palavras do arquiteto e pesquisador Carlos Eduardo Comas.

 

O Palácio foi pioneiro na união das características da arquitetura moderna, com uso de pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre e “janelas em fita” . O edifício foi também o primeiro a usar no Brasil, em larga escala do brise-soleil , inventado por Le Corbusier.



Live “Em defesa da cultura brasileira: o Palácio Capanema é nosso”

(Imagem: CAU BR/Reprodução)


Nesta terça-feira (17), às 20h30, acontecerá a live “Em defesa da cultura brasileira: o Palácio Capanema é nosso”. Promovida pelo Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, a transmissão ocorrerá pelo YouTube. O debate será mediado por Marcos Olender e contará com a presença de Antonio Augusto Arantes, Jurema Machado e Márcia Chuva.

 

Marcos Olender – mediador


Diretor de Comitês Científicos do ICOMOS-Brasil.


Antonio Augusto Arantes


Antropólogo, professor emérito da Unicamp, ex-presidente do Iphan, Condephaat, Condepac, Assosicações Brasileira e Latino-americana de Antropologia. Ex-Vice Presidente do Comitê Científico Internacional do Patrimônio Cultural Intangível do ICOMOS.


Jurema Machado


Arquiteta urbanista pela Universidade Federal de Minas Gerais, 1979. Foi presidente do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Coordenadora de Cultura da UNESCO no Brasil e Presidente do IEPHA/MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. Atua como consultora em projetos de reabilitação do patrimônio e políticas culturais.


Márcia Chuva


Historiadora. Professora do Departamento de História da UNIRIO e do Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural do IPHAN. Trabalhou no IPHAN de 1985 a 2009, no oitavo andar do Palácio Gustavo Capanema. Escreveu Os Arquitetos da Memória, abordando as políticas de patrimônio no Brasil.




Dia Nacional do Patrimônio Histórico



(Imagem: CAU RJ/Reprodução)


O dia 17 de agosto de 1998 foi marcado como o Dia Nacional do Patrimônio Histórico no país. A data ganhou o significado após mais de 60 anos de criação do mais importante órgão de preservação do país, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 


O Instituto, responsável pela proteção e preservação dos bens culturais nacionais, possui tutela de milhares de edifícios, centros urbanos e sítios arqueológicos brasileiros e ainda conta com um acervo monumental com mais de 1 milhão de objetos catalogados.


A data foi escolhida para homenagear o centenário do historiador e jornalista mineiro, Rodrigo Melo Franco de Andrade, nascido no dia 17 de agosto de 1898. Rodrigo foi o maior responsável pela consolidação jurídica do tema Patrimônio Cultural no Brasil e pela criação do Iphan em 1937, que presidiu até 1967. O Iphan, como forma de honrar sua memória, premia ações de proteção, divulgação e preservação do patrimônio cultural brasileiro anualmente, com o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade.


A celebração e a importância desse dia estão na promoção e administração do processo de preservação dos bens culturais do país, no fortalecimento da identidade nacional, na garantia do direito à memória e na contribuição para o desenvolvimento socioeconômico do país.


Fontes:

- CAU

- CAU RJ

- CAU



Pós-Graduação