Gostaria de falar de um grande santo chamado Carlo Borromeo e sua enorme contribuição para a Arquitetura Religiosa.
Borromeo foi cardeal e arcebispo de Milão e participou ativamente no Concílio de Trento. Ao retornar para Milão, escreveu um documento intitulado "Instructiones Fabricae Et Supellectilis Ecclesiasticae", que foi feito inicialmente para a sua arquidiocese e objetivava oferecer um conjunto de diretrizes para orientar a construção de igrejas conforme os preceitos tridentinos.
Contudo, este ganhou repercussão em todo o mundo ocidental, sendo reeditado várias vezes desde 1577 até 1952. Ele apresenta o documento em trinta e três capítulos. Os trinta primeiros têm foco no projeto das igrejas e incluem também informações sobre catedrais. Estes capítulos abordam:
● o tamanho
● as características do terreno
● o desenho da fachada, das portas e
das janelas
● a organização do interior
● o batistério
● o campanário
● a sacristia
● o mobiliário
● a decoração.
Os três últimos capítulos tratam dos projetos de oratórios e igrejas em conventos e mosteiros. Tais instruções passaram a estar contidas nos livros e documentos tridentinos associados ao rito católico. No Brasil, elas serviram como uma das referências para a elaboração das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, publicado em 1707.
Segundo Blunt (2001, p.168), São Carlo Borromeo “é o único autor a aplicar o decreto tridentino à arquitetura”. Estas Instruções, traduzindo o espírito do Concílio de Trento, tiveram grande importância ao criar certa “padronização” na construção de igrejas em todo o mundo católico.
A seguir transcrevo alguns trechos deste documento:
Instructionum
fabricae et supellectilis ecclesiasticae. Libri II (1577) - (Imagem:
Amazon/Reprodução)
“...É particularmente importante que a
localização da igreja, onde quer que seja construída, seja no alto. Se a topografia é tal que não existe uma parte mais
elevada, então a igreja deve ser construída sobre uma base, de modo que sejam
levantados sobre a planície e o piso seja alcançado por meio de três ou cinco
degraus. [...] Que ela se afaste de
lugares úmidos, de todos os tipos de sujeira, estábulos, baias de ovinos,
tabernas, forjas, lojas e mercados de todos os tipos...”
“...É bom que alguma instrução deva ser dada
aqui sobre o assunto do tabernáculo, pois um decreto provincial tornou
obrigatória a colocação do mesmo no altar-mor. Nas mais importantes igrejas,
sempre que possível, deve ser feito de
prata ou bronze, deve ser dourado ou de mármore precioso [...] Além disso,
o tabernáculo, definido no altar, terá uma base estável decorada, devidamente
executado, com estátuas de anjos ou outro suporte decorado com ornamentos
religiosos, será fixado firmemente no lugar sólido. Além disso, será equipado
com uma chave...”
“...O coro, como é óbvio a partir de edifícios
antigos, e os regulamentos de disciplina da igreja, deve ser separado da parte
da igreja onde as pessoas permanecem e cercado por grades. [...] Ele deve, como o arquiteto entender, ser largo e
comprido, se o espaço permitir, na forma de um semicírculo ou outra forma,
de acordo com o plano da capela ou da igreja, correspondendo assim
perfeitamente, inclusive no seu tamanho e ornamentação, à dignidade solene da
igreja e o número do clero...”
“...Primeiro de tudo o confessionário será feito
inteiramente de painéis de madeira
trabalhada. Estes serão colocados em ambos os lados, nas costas e vai
cobrir a parte superior, enquanto ele será totalmente aberto na parte da
frente, e não deve ser fechada de forma alguma. Todavia, pode ter, sobretudo
nas igrejas mais frequentadas, uma porta
de treliça ou um portão de madeira [...] Um pequeno braço de madeira será
fixado na parte interna do painel entre o confessor e penitente, em que o
confessor poderá descansar o braço. Será como uma barra transversal, de modo
que possa ser abaixado e levantado, conforme desejado.[...] Uma pequena placa
ligeiramente inclinada será definida na extremidade superior. Sobre isso, o
penitente pode confiar suas mãos juntas durante a confissão de joelhos...”