Você aceitaria fazer algum exame ou terapia hospitalar se desconfiasse que o profissional, médico ou enfermeiro, que está operando um determinado equipamento não recebeu o treinamento para utilizar aquela tecnologia?
Parece algo como pegar um táxi em que o motorista não teve aulas de direção, não é?
Mas, quando ampliamos ou construímos um novo hospital, treinar adequadamente toda a equipe para operação dos diversos equipamentos é uma tarefa difícil. Neste post, apresentarei 04 boas práticas que ensino nas disciplinas que ministro para as pós-graduações do INBEC.
O DESAFIO
Imagine que você está ampliando ou construindo seu hospital, e precisará treinar 200, 300, 600 pessoas na operação de centenas de equipamentos que foram adquiridos.
Aliás, quando se trata de um novo hospital, estamos falando de no mínimo 300 tipos de equipamentos, cada qual com suas características, funcionalidades e opcionais.
E para piorar, considere que provavelmente você terá menos de 02 meses para realizar todos estes treinamentos, pois dificilmente a administração irá contratar toda a equipe assistencial com uma antecedência maior que esta, pela inviabilidade de arcar com uma folha de salários milionária sem que esteja nas vésperas da inauguração.
Não bastasse o amplo escopo e escasso tempo, esta equipe também deverá receber treinamento de atendimento, sistemas, protocolos etc., e ainda conciliar as agendas de médicos e enfermeiros em diferentes turnos.
Sim, é mesmo um grande desafio! Mas há 04 ferramentas que ajudam muito. Vou apresentar cada uma delas abaixo:
1) PLANO DE TREINAMENTO
A primeira tarefa é elaborar o Plano de Treinamento que deve conter, minimamente, as seguintes informações:
Quais treinamentos (tipos de equipamentos)
Quais empresas e profissionais ministrarão os treinamentos
Quais equipes (setores) receberão quais treinamentos
Data e horário de cada treinamento para cada equipe
Local onde será realizado cada treinamento
Aconselho que este plano seja elaborado em conjunto com a coordenação / chefia de enfermagem, pois ajudará a reservar agenda das equipes dos diferentes setores enquanto a engenharia clínica se encarrega de programar com os fornecedores as datas disponíveis para aplicação.
O difícil aqui nesta etapa é conseguir expor e relacionar de forma organizada todas estas informações em uma única planilha. No nosso curso, disponibilizamos aos alunos um modelo de tabela para Plano de Treinamentos que atende bem esta necessidade. Segue abaixo:
2) FORMULÁRIOS DE APOIO
Em uma situação em que vários treinamentos operacionais estão sendo ministrados pelos fornecedores em um curto espaço de tempo (tal como acontece na implantação de um novo hospital), é preciso garantir que algumas informações de primeira importância estejam sendo abordadas e registradas para consulta futura.
Para isto, utilizamos na Engenharia Clínica um formulário de apoio aos treinamentos, em que registramos informações como:
Conservação e limpeza:
Procedimentos de lubrificação
Procedimentos de limpeza
Que produtos utilizar
Outros cuidados indicados para conservação
Preventiva e inspeção:
Indicação sobre a periodicidade de preventiva
Relacionar os principais itens de checagem e inspeção
Recomendação sobre calibração
Corretiva e primeiro atendimento
Listar problemas/falhas mais comuns sob condições normais de uso
Listar problemas / falhas relacionadas ao mau uso
Orientações para primeiro atendimento destes problemas mais comuns
É preciso aproveitar ao máximo os treinamentos ministrados pelos especialistas das empresas fornecedoras. Dessa forma, o formulário acaba servindo como um checklist para não esquecermos de perguntar e registrar essas informações importantes, ajudando assim a enriquecer o tempo de treinamento.
Este formulário deve ser anexado aos demais documentos do treinamento e uma cópia deve ficar disponível na pasta do equipamento na engenharia clínica para consultas futuras.
Seguem abaixo modelom que apresentamos aos alunos do nosso curso:
3) REGISTRO DE PRESENÇA
O registro de todos os treinamentos através de Lista de Presença é uma exigência frequente vinda do Setor de Qualidade e do Comitê de Educação Continuada do Hospital.
Esta requisição está relacionada com os processos de certificação em qualidade (acreditação), mas antes de tudo é também uma evidência legal em caso de algum problema / evento adverso envolvendo erros operacionais.
Imagine, por exemplo, uma situação em que um profissional da equipe assistencial realize alguma configuração equivocada em um determinado equipamento médico e isto cause um dano ao paciente.
Em um caso como este, a existência de uma evidência de que o hospital proporcionou ao profissional o treinamento de operação daquele equipamento evitará que o evento seja visto como imperícia.
Segue um exemplo de lista de presença que apresento aos alunos do nosso curso:
A lista de presença é um documento simples, mas veja que deve conter minimamente:
Título do treinamento
Nome do instrutor e empresa que pertence
Local, data e hora
Nome dos participantes e registro (número do crachá)
Setor dos participantes
Assinatura dos participantes
4) AVALIAÇÃO PÓS TREINAMENTO
Também com o intuito de registrar as atividades de treinamento para os efeitos de controle e evidência legal, somamos à lista de presença um Formulário de Avaliação de Treinamento.
Pois, enquanto a lista de presença registra que foi realizado o treinamento, o formulário de avaliação demonstra se a equipe ficou ou não satisfeita com este mesmo treinamento.
A dica é utilizar um formulário de fácil e rápido preenchimento, como o modelo proposto abaixo em que utilizamos como graduação as “carinhas” da feliz até triste.
Caso os profissionais que receberam o treinamento tenham ficado insatisfeitos, esta avaliação ajudará a Engenharia Clínica a pleitear um novo treinamento sem custo junto ao fornecedor. Em nossa experiência, nenhuma empresa se nega a repetir o treinamento quando comprovado que o primeiro realmente não foi bem avaliado.
Em nosso curso, sugerimos aos alunos um modelo de formulário de avaliação de treinamentos, como o que segue abaixo:
CONSIDERAÇÕES E DICAS FINAIS:
Todas as 04 boas práticas apresentadas acima devem ser consolidadas em um procedimento operacional padrão da Engenharia Clínica.
Também é papel da Engenharia Clínica implantar e medir o indicador de número de erros de operação, de maneira que consiga mapear quais são as famílias de equipamentos médicos com maiores taxas. Este indicador permitirá ao gestor decidir quais novos treinamentos deverão ser priorizados.
Espero que as dicas deste artigo lhe sejam úteis e, caso tenha interesse em aprender mais conhecimentos práticos como estes, saiba mais sobre os cursos de pós-graduação do INBEC nas áreas de Engenharia Clínica e Engenharia Hospitalar.
Prof. Guilherme Xavier