Casas sem cozinha: co-living e novos interiores



Casas sem cozinha: co-living e novos interiores

(Foto: ArchDaily/Reprodução)

 

A ascensão do co-living começou a moldar radicalmente o design de interiores. Em projetos residenciais e empreendimentos comerciais, o co-living está ligado ao surgimento da ideia de uma moradia sem cozinha.

 

Iniciada pela arquiteta espanhola Anna Puigjaner, essa ideia está conectada a uma série de inovações em design de interiores e co-living construídas nos últimos cinco anos. Por sua vez, esses novos interiores começaram a contar uma história de habitação e experiência espacial enraizada na vida moderna.

 

O que significa co-living?

 

Muitos de nós já moramos, estão morando ou viverão em uma república de estudantes - uma boa mistura entre moradia barata e convivência intensa com amigos e colegas. Por uma quantia razoável, é possível ter um quarto individual e dividir espaços comuns. Pois, cada vez mais, não são só universitários que estão vivendo desta forma. O conceito de co-living vem se firmando como uma solução atrativa e eficaz.

 


(Foto: ArchDaily/Reprodução)

 

 

Os altos preços dos imóveis e o estilo de vida cada vez mais solitário estão levando as pessoas a buscarem novas formas de morar. Apesar das semelhanças com uma república, o co-living engloba muitos outros fatores - como um senso de comunidade, sustentabilidade e economia colaborativa.

 

O conceito surgiu na Dinamarca nos anos 70 - originalmente com o nome do cohousing. No projeto Sættedammen, viviam 35 famílias que mantinham moradias privadas e compartilhavam espaços de convivência e atividades, como refeições e limpeza de ambientes, grupos de interesse, festas e eventos. Hoje o co-living abrange uma infinidade de possibilidades, que vão desde pessoas que simplesmente vivem juntas - compartilhando apenas o espaço físico -, até comunidades que compartilham também valores, interesses e filosofia de vida.

 

Atualmente, um grande nicho de mercado do co-living são os recém formados - para quem o apelo costuma a ser financeiro. Sem condições de arcar com os caros aluguéis das grandes cidades, a solução é compartilhar. Mas buscam locais mais bem conservados e estruturados e com melhor localização que as repúblicas de estudantes.

 

Uma opção cada vez mais comum nesse nicho são os espaços de co-living - projetados e administrados por empresas especializadas em compartilhamento de moradias. Em vez de buscar companheiros para dividir um apartamento - e ter que lidar com contratos e contas compartilhadas -, é só alugar um dormitório em um desses empreendimentos. A maioria oferece os cômodos já mobiliados e decorados, amenidades compartilhadas - como cozinha, áreas de convívio e espaços de co-working -, além de serviços de limpeza profissional e até coordenadores sociais para ajudar os moradores a se adaptarem a seus novos bairros.

 

Nômades digitais e cidadãos globais também se adaptam bem ao compartilhamento. Muitos desses empreendimentos de co-living têm unidades espalhadas pelas principais capitais do mundo. Em vez de pular de Airbnb em Airbnb, é possível escolher um como base e circular pelos outros conforme a necessidade.

 

Outro nicho de mercado está sendo formado por pessoas um pouco mais velhas, com mais dinheiro e que querem mais espaço e privacidade. A maioria está na casa dos 30 anos, são solteiros ou casados, sem filhos e acabaram de se mudar para uma nova cidade. Para eles, o co-living não é tanto uma solução financeira, mas sim uma busca por um senso de comunidade.

 

 


(Foto: ArchDaily/Reprodução)

 

 

A empresa Node é pioneira neste tipo de empreendimento e possui diversos pelo mundo. Cada apartamento inclui cozinha e sala e são decorados com curadoria de designers. O compartilhamento fica a cargo de eventos promovidos pela empresa, como degustações de vinho, jantares de amigos, decoração de árvores de natal, shows de teatro e passeios em festivais de cinema.

 

Uma pesquisa realizada pelo Space 10, o laboratório de inovação da IKEA, buscou entender o que as pessoas gostariam em um co-living e o que estariam dispostas a compartilhar - ou não. O objetivo era fundamentar melhores decisões de design ao criar futuros espaços de convivência, levando em consideração as preferências e preocupações das pessoas antes de desenhar o projeto. O questionário foi respondido por 14 mil pessoas de 147 países.

 

Os resultados, publicados em 2018, mostraram que a maioria se atrai pela moradia compartilhada por causa da socialização com outros - e não pela economia financeira. A maioria também diz preferir viver em comunidade pequenas, de quatro a dez pessoas - algo que vai na contramão do que as empresas de co-living vêm projetando: espaços de convivência para centenas de pessoas, como o Old Oak, no oeste de Londres, que possui 550 leitos. Outra descoberta interessante é que a maioria prefere viver com pessoas de diferentes origens e idades. A maioria também prefere viver com casais sem filhos e mulheres solteiras - os membros menos populares da casa eram crianças pequenas e adolescentes.

 

 


(Foto: ArchDaily/Reprodução)


Um exemplo é o projeto Oosterwold Co-living Complex, na Holanda, projetado por bureau SLA, trabalha com esse conceito. Com uma restrição orçamentária para construir a casa dos sonhos, mas com um terreno espaçoso, a ideia surgida foi convidar amigos para uma experiência de nova forma de moradia. Nesse caso, espaços internos são totalmente configuráveis pelos moradores, que dividem as áreas externas. O conceito ainda é novo e deve ganhar mais adeptos por um estilo de vida mais livre e sem a necessidade de se fixar em uma cidade.


Anna Puigjaner



(Foto: ArchDaily/Reprodução)

 

 

Em 2016, Anna Puigjaner imaginou um futuro em que a casa é adequada às necessidades de seus habitantes. Seu projeto “Kitchenless” recebeu o prêmio Wheelwright da Universidade de Harvard, juntamente com uma doação de US $ 100.000 para pesquisas sobre modelos existentes de residências comunitárias em todo o mundo.

 

Puigjaner explicou a ideia em uma entrevista ao ArchDaily e, desde então, ela revelou como está aplicando sua tipologia de moradias “sem cozinha” em seus próprios projetos para a Metropolis Magazine. Puigjaner fala sobre o tempo em que passou viajando pelo mundo visitando as muitas culturas diferentes que compartilham sua ideia de culinária comunitária.

 

 

A proposta de Puigjaner era criar casas "sem cozinha" com uma cozinha compartilhada central para o coletivo, para resolver os problemas da falta de meios sociais da população crescente e formar uma comunidade dentro de um edifício. Ligada à criação de bairros saudáveis e sustentáveis, a ideia também está enraizada na direção de uma vida ambientalmente consciente.

 

Somente nos Estados Unidos, os americanos desperdiçam 30% dos alimentos consumíveis anualmente. Da mesma forma, jovens e idosos carecem cada vez mais de meios de socialização. Com o objetivo de desenvolver novos modelos de habitação coletiva, Puigjaner acredita que centralizar a culinária em edifícios residenciais e promover a convivência pode começar a abordar essas questões.

 


(Foto: ArchDaily/Reprodução)

 

Como Puigjaner disse, o conforto doméstico é construído e projetado. Como os interiores são moldados pela experiência, o surgimento de convivência e conceitos como casas sem cozinha começaram a influenciar investidores e projetos maiores, além da residencial unifamiliar.


Projetos como Staten Island Urby, plataformas comuns como Treehouse e até os próprios projetos de Puigjaner com sua empresa MAIO mostram o potencial dessas tendências. Como nossa Arquitetura e cidades são moldadas por novos modos de vida e tendências como a automação, o design de novos interiores continuará refletindo como escolhemos viver hoje.

 

Fontes:

-       ArchDaily

-       ArchDaily


Pós-Graduação