Dicas e recomendações para especificação de mobiliário hospitalar



Dicas e recomendações para especificação de mobiliário hospitalar
É importante identificar em qual atividade o móvel será empregado (Foto: warut pothikit/Shutterstock - AECweb/Reprodução)

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O mobiliário para ambientes de saúde evoluiu, assim como os tecidos de revestimentos. Mas a escolha exige conhecimento, a começar pelos princípios da ergonomia. Entenda.



O olhar cuidadoso para o mobiliário, especialmente dos hospitais, surgiu a partir da criação da ergonomia em 12 de julho de 1949. “Essa é a única ciência no mundo que tem data de aniversário”, diz o arquiteto e doutor Fabio Bitencourt, autor de livros sobre arquitetura e ergonomia nos ambientes de saúde. 


Essa ciência se volta para a segurança, saúde, conforto e bem-estar do homem no seu trabalho. Antes, porém, o arquiteto finlandês Henrich Alvar Aalto foi o primeiro a desenhar um hospital inteiro e seu mobiliário, o Sanatório de Paimio, implantado na cidade de Turku.


“Nesse local, havia grande fragilidade dos pacientes em relação à mobilidade e acesso à cama e cadeira, entre outras atividades. Aalto projeta o mobiliário, considerando a segurança das pessoas, como a altura para sentar adequadamente e facilitar o acesso ao leito”, relata. Esse desenvolvimento serviu de base para a discussão da ergonomia por equipes multidisciplinares, visando a acomodação da anatomia humana ao mobiliário.



CRITÉRIOS PARA ESPECIFICAÇÃO DO MOBILIÁRIO


A antropometria, conhecimento das dimensões humanas integrado aos estudos da ergonomia, é um dos requisitos para especificação do mobiliário hospitalar. “Cada uma das mais de 7 bilhões de pessoas no mundo tem dimensões únicas”, ensina. Para ilustrar, Bitencourt cita que, para confeccionar determinada chuteira para o craque Ronaldinho, foram tomadas 77 medidas do seu pé.


Os dois outros critérios são a fisiologia, que se traduz como aspectos individuais do sistema de saúde de cada um, e a biomecânica, capacidade de realizar trabalho, ou seja, o quanto de esforço a pessoa faz para qualquer atividade. Na escolha dos móveis entram, ainda, fatores ambientais, como clima, ruídos, iluminação, cores, música, substâncias químicas e vibrações físicas. Esse conjunto de estudos constituem a ergonomia, que nos ambientes de saúde têm grande peso.


Porém, é essencial identificar em qual atividade o móvel será usado e quem é o usuário. Um jovem, por exemplo, se levanta de uma cadeira sem apoiar as mãos, o que já não ocorre com o idoso. Além disso, cada um tem suas próprias dimensões e fragilidades inerentes à condição humana. “Esses critérios são aplicáveis ao desenho e qualidade do mobiliário que, em ambientes de saúde, devem obedecer aos quatro eixos fundamentais da ergonomia: conforto, bem-estar, segurança e saúde”, reforça o arquiteto.


O aspecto da segurança implica evitar móveis com pontas que podem machucar, encaixes que possibilitem prender a mão ou que causem desequilíbrio, levando à queda do paciente. “Hoje, é comum que um bom móvel custe tão caro quanto um carro”, comenta, acrescentando que os grandes hospitais têm, em sua equipe, profissionais de ergonomia para fazer o detalhamento, especificação e aquisição do mobiliário.


De acordo com o arquiteto, é ilusório imaginar que os móveis adquiridos pelas redes hospitalares mais ricas são objetos de luxo. “Na verdade, são objetos de conforto e segurança, com a qualidade que vai garantir longevidade. Quando o mau gestor compra um mobiliário que, em princípio, pareceu mais barato, ele pode estar comprando uma replicação de custos. São móveis que não têm parafusos inoxidáveis e encaixes adequados, não suportam o transporte dentro do hospital e as cargas variáveis. Portanto, vão desmontar em poucos meses”, alerta. Esse princípio deve pautar as aquisições pelos hospitais privados e públicos, afinal, trata-se de investimento de longo prazo.



MATERIAIS E DESENHO EVOLUÍRAM


Os tecidos para revestimentos de móveis é um dos materiais que mais evoluíram. “Há vasta gama com variação também de preços entre aqueles de fácil limpeza e lavabilidade, que promovem a assepsia e protegem contra as alergias. Esses materiais têm peso e relevância em ambientes de saúde”, enfatiza. Os tecidos devem ser resistentes aos produtos abrasivos utilizados para limpeza, para que alcancem longa vida útil. Mas, não basta que o tecido seja fácil de limpar, o mobiliário precisa ter desenho limpo, sem reentrâncias que acumulem pó e sujeira, ambiente propício para o desenvolvimento de micro-organismos patogênicos.


As camas hospitalares são exemplos do quanto a tecnologia dos materiais e do desenho atingiram um novo patamar. O salto partiu das camas operadas a manivela, construídas em aço pintado, que, ao longo do tempo, descascavam e enferrujavam. “Era um mobiliário resistente, mas propenso a danos, riscos, esmagamento de dedo e pele da pessoa, criando insegurança no ambiente de saúde”, lembra Bitencourt. As camas atuais motorizadas, além do acionamento digital para diversos recursos e posições, são produzidas em polipropileno, material presente em boa parte dos objetos consumidos hoje, como computadores, telefones e interior dos automóveis.


A diferença da qualidade do mobiliário do passado e do atual representa economia a médio e longo prazo”, observa. Os preços refletem essa variação: as camas mais simples produzidas por empresa tradicional custam R$ 1,8 mil e as elétricas chegam a R$ 5,2 mil, enquanto as do fabricante internacional consideradas as melhores do mercado vão de R$ 20 a R$ 60 mil, dependendo do tipo de uso, como em UTI, onde elas medem 0,90 x 2,00 contra 0,80 x 2,00 dos leitos de internação. Mesmo que caras, são amplamente utilizadas nos hospitais brasileiros de primeira linha.


Há, também, no mercado, produtos específicos para obesos e, alguns hospitais já dispõem de quartos preparados para esses pacientes, inclusive o banheiro com bacia sanitária com dimensões apropriadas.


Evolução digna de observação é a do mobiliário hospitalar para crianças. O arquiteto recorda que, antigamente, elas eram acomodadas em berços, o que exigia esforço dos profissionais de saúde para os cuidados. “Para crianças, é fundamental ter camas de qualidade, desenhadas com cuidado, porque são curiosas, mexem em tudo e o móvel não pode oferecer risco”, observa.



HOME CARE


De acordo com Bitencourt, há várias situações em que o paciente acamado, em casa, necessita de mobiliário especial, sendo a mais comum as neoplasias. Ele precisa, em primeiro lugar, de mobilidade no ambiente, com sua cadeira de rodas. Será preciso tornar a residência acessível, com a adequação das dimensões das portas e instalação de corrimãos. O principal mobiliário é a cama hospitalar, que permite que o paciente seja cuidado com segurança.


Assim como no hospital, é preciso que o quarto conte com pequenos armários de apoio (bedside) que ficam ao lado da cama e, também, os bedside table dotados de regulagem de altura para que o paciente possa se alimentar sem esforço. As poltronas com funções específicas permitem que o paciente, fora do leito, receba medicação e descanse em posições ergonômicas, ou seja, confortáveis e com segurança. “Muitas vezes, é preciso substituir todos os móveis da casa quando se tem uma pessoa com previsão de que viverá em home care por longo período”, conclui Fabio Bitencourt.



Fonte:

- AECweb



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