Após um 2019 de retomada mais forte, o setor da Construção
Civil deve crescer 3% em 2020, o
que representa um potencial para criação de 150 mil postos de trabalho formais até o final do ano.
Os números são da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC). O número de empregos é maior do que a marca de 2019, que
deve ficar próxima aos cem mil postos de trabalho, com avanço de 2%. “Esse número de vagas pode até crescer mais, caso o mercado imobiliário continue surpreendendo
com os lançamentos”, explica José Carlos Martins, presidente da CBIC.
O crescimento mais forte esperado para o setor em 2020 é
reflexo da expectativa positiva em relação ao desempenho da economia
brasileira, que inicia o ano com aumento
da confiança dos consumidores e dos empresários, juros baixos e inflação sob
controle.
Em entrevista ao UOL, o presidente do SindusCon-SP
(Sindicato da Indústria da Construção
Civil do Estado de São Paulo), Odair Senra, disse que os juros baixos, a
inflação controlada e a estabilidade da economia ajudaram o setor a sair da
crise.
Falta
muito para voltar a 2012
Mas ainda falta muito para a Construção
voltar ao nível de 2012. Entre 2006 e 2012, o PIB construção subiu 62%. Entre 2013 e 2018, caiu 30%. No pico, havia 3,5 milhões de
trabalhadores, mas perdeu-se 1,2 milhão até 2018.
Para Senra, um reforço em parte do Programa
Minha Casa Minha Vida e ajustes na cobrança de impostos sobre o setor
poderiam ajudar a Construção Civil a acelerar ainda mais o passo.
Veja
os principais trechos da entrevista:
Presidente do SindusCon-SP, Odair Senra (Foto: Jorge Rosenberg/SindusCon/UOL Economia/Reprodução)
UOL -
Alguns agentes econômicos têm apontado o segmento imobiliário da Construção Civil
como um dos motores que estão já empurrando a economia e apostando nessa
atividade para sustentar o crescimento do PIB em 2020. Esse otimismo vai se
confirmar?
Odair
Senra - O segmento imobiliário tem apresentado um melhor
desempenho em lançamentos e vendas, sobretudo no município de São Paulo. Essas
vendas e lançamentos devem resultar em obras,
emprego e renda. Daí sim, a expectativa de que este segmento apresente um
desempenho mais robusto em 2020, contribuindo para um PIB mais elevado.
Por
que a Construção Civil no
segmento imobiliário está retomando o ritmo?
Por conta de um conjunto de fatores favoráveis. A
significativa queda de juros e a
inflação sob controle, o que motivou a diminuição dos juros nos
financiamentos imobiliários, tornando-os mais acessíveis; uma demanda
qualificada de famílias que agora, com a baixa inflação e a estabilidade
econômica, se sentem mais seguras do que
nos anos anteriores para tomar crédito de longo prazo; e investidores que,
com a redução da atratividade das aplicações financeiras, começam a adquirir imóveis para renda ou preservação
do patrimônio. O tijolo é moeda forte
Olhando
para o mercado de trabalho no setor, a expectativa de crescimento em 2020 vai se
refletir em abertura de vagas?
Sim, e o mercado de trabalho do setor já mostrou alguma
recuperação em 2019. Estimamos que a indústria brasileira da construção fechou
2019 com 2,331 milhões de trabalhadores empregados, um aumento de 1,8% em relação a 2018.
Para 2020, projetamos aumento de 3% no PIB da Construção, mais uma vez puxado pelo segmento de
autoconstrução e reformas (+4,5%) e pelos serviços especializados (+2,5%), mas
com desempenho do setor de edificações (+2,3%) superior ao da infraestrutura
(+1%).
O
setor ainda está muito longe dos picos atingidos antes dos anos de recessão?
Ainda está longe. Para se ter uma ideia, de 2006 a 2012 o
PIB da construção acumulou aumento de 62%. Já entre 2013 e 2018, apresentou uma
queda de 30%. No pico do boom do setor, ele chegou a ter cerca de 3,5 milhões
de empregados, perdendo mais de 1,2
milhão até 2018.
Há
risco de que o setor volte a enfrentar algum tipo de gargalo como chegou a ter,
quando a forte expansão gerou disputa por mão de obra, insumos e equipamentos?
Nesta crise que durou cinco anos, empresas que fornecem
equipamentos, serviços de projetos, mão de obra e instalação de sistemas
prediais às Construtoras fecharam ou
reduziram drasticamente seu pessoal.
Trabalhadores qualificados migraram para outros setores da
Economia. Por isso, apesar da grande ociosidade, poderão ocorrer dificuldades pontuais em regiões aquecidas, mas não
de forma generalizada em todo o país.
O
Minha Casa Minha Vida é um ponto que merece preocupação quando se olha para
2020?
Sem dúvida, especialmente no tocante à faixa 1 (famílias com renda mensal de até R$ 1.800). Os recursos
destinados à contratação de novas moradias no Orçamento da União para 2020 são
tão escassos que possivelmente só serão liberados para situações excepcionais, como, por exemplo, famílias de baixa renda
que perderem suas casas em catástrofes.
Com relação às demais faixas, esperamos que não haja
maiores problemas, uma vez que os recursos para subsidiá-las sairão integralmente do FGTS. Mas esses
recursos tendem a diminuir diante da decisão do Governo de utilizar o Fundo
para estimular o consumo, daí que a preocupação permanece em relação aos anos
seguintes.
O
imóvel como forma de investimento é algo que pode ganhar força em 2020?
Eu diria que já está ganhando força, e essa tendência deve
ser reforçada ao longo de 2020, especialmente se as reformas que buscam o equilíbrio das contas públicas avançarem.
Vemos que a redução da atratividade das aplicações financeiras tem levado
investidores a adquirir
imóveis para renda ou preservação do patrimônio.
Fontes:
- O
Globo